São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lésbica ataca psiquiatras

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A homossexual norte-americana Daphne Scholinski, 29, veio a Pequim para denunciar "a indústria da psiquiatria nos EUA.
"Eles me fizeram passar quatro anos da minha adolescência em hospitais psiquiátricos, tentando 'me curar', ou seja, tentando impedir que eu assumisse minhas preferências sexuais, diz ela.
Daphne e um grupo de homossexuais de San Francisco (Califórnia, Costa Oeste dos EUA) organizaram um serviço de ajuda a adolescentes que, por demonstrarem preferências homossexuais, são internados em hospitais para tratamento psiquiátrico.
A região de San Francisco é considerada o principal centro de ativistas homossexuais do mundo.
"Não temos estatísticas sobre quanta gente enfrenta esse problema hoje em dia, mas acho que são centenas, disse Daphne à Folha. "Em dois anos já recebemos 75 telefonemas de pessoas pedindo orientação.
Quem pede orientação, segundo Daphne, recebe dicas de como buscar assessoria jurídica ou conselhos sobre como conversar com os pais sobre o assunto.
"Os jovens que são internados têm seus direitos humanos desrespeitados e se tornam vítimas da indústria da psiquiatria, afirma a ativista.
"Os médicos determinam o que é normal e o que é anormal, ninguém supervisiona o que eles fazem, diz Daphne.
Ela aproveitou a conferência e o encontro das organizações não-governamentais, que terminou semana passada, para contar seu caso e divulgar sua campanha contra a chamada "indústria psiquiátrica.
Daphne ficou três anos internada, dos 14 aos 18, passando por três hospitais. Além da forte medicação, ela recebia conselhos sobre como tornar mais feminino o seu comportamento.
"Cresci entre as paredes brancas de hospitais, observada 24 horas por dia durante quatro anos.
Daphne conta que ouviu de seus pais que sofria de depressão e que a mãe, ao sugerir ao médico que a filha poderia ser homossexual, ouviu como resposta: "Não se preocupe minha senhora, nós vamos resolver isso.
Cinco dias depois de completar 18 anos Daphne deixou o hospital. Os 48 meses de internação trouxeram uma conta estratosférica: cerca de US$ 1 milhão, pago por um seguro de assistência médica.
Daphne não culpa seus pais. "Eles foram vítimas, a sociedade pressionava para que eles tivessem o que se costuma chamar de 'filhos perfeitos', opina ela.
Atualmente, em San Francisco, Daphne vive com sua namorada e se dedica às artes plásticas, em especial pintura e desenho.
Também escreve pequenos textos, que assim como suas telas, se referem geralmente "às quatro paredes brancas do hospital.

Texto Anterior: Conferência aprova texto sobre os direitos sexuais das mulheres
Próximo Texto: Demanda aumenta banheiros femininos; Falta de versões faz a reunião parar; Madre Teresa envia texto antiaborto; Cartões reclamam de teste nuclear Associated Press; Guardas impedem ato pró-birmanesas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.