São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
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FHC pretende assentar mais sem-terra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que pretende acelerar os programas de assentamentos rurais e de colonização.
FHC afirmou que o movimento dos trabalhadores sem terra o preocupa e condenou o "desassossego no setor rural".
"Nós vamos ter que realmente atuar com mais velocidade na questão relativa ao assentamento rural e a colonização", disse o presidente a um grupo de produtores rurais durante cerimônia no Palácio do Planalto.
"A mim me preocupa a questão dos sem-terra, porque é uma questão verdadeira e que de repente pode ser usada como bandeira não para resolver os problemas, mas para chamar a atenção".
FHC criticou a ocupação de terras produtivas. Um grupo de trabalhadores rurais que está acampado em uma fazenda em Buritis (MG) ameaçara invadir terras de propriedade do presidente, localizadas próximas à área ocupada.
"Não tem sentido ocupar terras de quem está trabalhando e não tem sentido não dar terras ociosas para quem precisa trabalhar. As duas verdades têm de ser respeitadas, ambas com muita determinação. Se houver confusão entre esses dois pontos, as coisas não vão funcionar adequadamente".
Fernando Henrique disse que o governo não tem o "equipamento necessário para atender à urgência de soluções" pedida pelo movimento dos sem terra. "Nós vamos ter de ter", afirmou.
Para FHC, os processos de assentamentos e colonização não se opõem. Ele pediu "clima de cooperação, de convergência de interesses" para resolver a questão da distribuição de terras.

Ataque aos demagogos
Em discurso durante a cerimônia, o presidente atacou os "demagogos" e "incompetentes" e disse ter recebido "heranças pesadas de um passado irresponsável", após citar problemas na área agrícola que não seriam enfrentados desde o Plano Cruzado (1986).
FHC afirmou ter recuperado a credibilidade da moeda nacional quando havia "uma descrença generalizada no país".
Segundo ele, "não faltaram demagogos (na época do Cruzado), como ainda não faltam hoje, que, com facilidade, ficam chorando pelo leite que não foi derramado por mim, mas por eles".
O presidente também criticou os "consultores" do governo que estariam prevendo catástrofes e os chamou de "incompetentes". De acordo com ele, "o tempo todo prevêem catástrofes porque são incompetentes e não têm coragem".
Para FHC, esses políticos "querem fazer manchetes, mas não querem ter a firmeza tranquila e a competência de avançar".
O presidente comentou também a expectativa de inflação negativa medida pelo IGP-M. "Eu espero que as oscilações (do índice de inflação) não virem manchetes assustadoras".
FHC disse não ser "fácil a um presidente da República tomar decisões para frear o crescimento" e argumentou que as medidas de contenção foram necessárias para evitar a recessão na economia.
Afirmou ainda que a agricultura pagou "um preço excessivo" pela estabilização da economia. Segundo ele, "não foi por causa do (Plano) Real em si, é porque quando há um processo de estabilização na economia as fragilidades dessa economia vêm todas à tona".

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