São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
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Usuários de hospitais públicos temem piora

LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de favoráveis à implantação do PAS (Plano de Atendimento à Saúde), usuários de hospitais públicos ouvidos ontem pela reportagem da Folha disseram temer a piora no atendimento.
"Recebendo por paciente, eles (os médicos) vão querer correr. É melhor atender dez pessoas bem, do que cem de qualquer maneira", afirmou Anita Paixão, 37.
Outro perigo, diz, é que, em casos mais complicados (em que sejam necessários vários exames, por exemplo), o médico evite gastos em detrimento do paciente.
Os principais argumentos usados por quem defende o plano são a crise atual na saúde e a crença de que, se os médicos passarem a receber de acordo com a sua produtividade, trabalharão mais.
"Vai começar a haver mais médicos e a gente não vai precisar andar a cidade toda atrás de atendimento", disse a empregada doméstica Antonia Maria dos Santos, 34, que ontem perdeu cerca de duas horas na viagem de sua casa, no Capão Redondo (zona sul), até o Hospital Infantil Menino Jesus (Bela Vista, região central).
Os hospitais que existem perto de sua casa, afirmou Antonia, não têm especialistas nem equipamentos para atender sua filha Joice, 11, que tem alergia.
A mesma reclamação é feita pela dona-de-casa Aparecida Correia, 42, que ontem também gastou mais de duas horas para chegar ao Menino Jesus.
"Se eu fosse a um hospital perto da minha casa, perderia mais tempo na fila do que perdi na vinda para cá." Segundo ela, o plano pode resolver esse problema, melhorando os hospitais nos bairros.
Para o vendedor Paulo Amaral, 27, qualquer alternativa para a atual crise na saúde tem que ser testada. "Temos que pagar para ver, mas tomando cuidado."

Médicos
A necessidade da presença do Estado na Saúde é a tese dos médicos que atacam o plano. "Saúde não é um negócio", diz a médica Sônia Ramos, 44. Para Sônia, uma boa saída para a crise enfrentada pela saúde hoje é a parceria entre Estado e empresas privadas. Ela acha que, antes de pôr o PAS em prática, deveria ser feito um teste.
Para o médico César Torresan, 53, seria melhor tentar sanar os atuais problemas sem desmontar a rede. "Se uma firma não vai bem, ela contrata um auditor para tentar resolver os problemas. Não se destrói a empresa para montar outra depois."

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