São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
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Um ato de bravura

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - É preciso reconhecer: há homens destemidos no Congresso. Parlamentares que têm idéias nada respeitáveis. E, supremo arrojo, as defendem com admirável vigor.
É o caso de Francisco Dornelles (PFL-RJ). O deputado sugeriu regras de proteção para empresários que se disponham a despejar dinheiro na eleição para prefeitos e vereadores, ano que vem.
Segundo sua tese, os nomes dos doadores devem ser mantidos sob rigoroso sigilo. Dornelles acha que a exposição inibiria as doações.
"Na campanha de 94, houve muitos vazamentos por meio da imprensa", reclamou anteontem. "Ninguém mais vai fazer doação para depois apanhar como um danado", reforçou ontem.
Nada como uma boa explicação. Eu próprio, em dúvida quanto aos reais objetivos do deputado, andei espinafrando suas idéias neste espaço. Fui um tolo, devo confessar.
Imaginei que o Legislativo buscasse normas de proteção para os eleitores. Bem informado, o cidadão votaria com consciência. Visto, porém, que Dornelles deseja mesmo é resguardar os doadores, tento agora ajudá-lo.
Ofereço ao deputado uma sugestão singela: por que não impor uma censura aos jornais? Seria a melhor forma de tapar de vez essa manilha por onde escorrem os nomes de tantos mecenas eleitorais.
A tese de Dornelles, só agora me dou conta, encontra amparo até mesmo na boa doutrina religiosa. Como se sabe, o verdadeiro cristão deve ajudar o próximo sem buscar publicidade de seus atos.
Decerto é esse o caso de parte de nosso generoso empresariado. Lubrificam as finanças de campanha por amor à democracia. Há desvios aqui e ali, é verdade -o escândalo Paubrasil, por exemplo, envolvendo o PPR de Dornelles.
Mas, aprovada a regra do deputado, a sociedade não seria importunada com temas tão desagradáveis. Assegurada a proteção aos nomes dos doadores, ninguém precisaria sair às ruas amanhã para derrubar um novo Collor.
Pensando bem, poderíamos aperfeiçoar um pouco mais a idéia de Dornelles. O melhor talvez seja extinguir as próprias eleições. Esse negócio de democracia dá muito trabalho.

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