São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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Sambalândia abre alas ao acasalamento

DAVID DREW ZINGG
EM SÃO PAULO

Nota do editor: Esta coluna pode ser prejudicial ao seu cérebro se não for lida a uma temperatura superior a 30ºC, como estava quando ela foi escrita.
Cara, tá quente aí fora! São Paulo está sentindo, ahn, calores.
Como dizia a clássica matéria da revista "New Yorker" quando eu era garoto, as meninas estão desfilando seus vestidinhos de verão pelas ruas.
Mas hoje, felizmente, elas estão desfilando sua falta de vestidinhos. O uniforme do calor em Sampa é mais frequentemente um short e uma blusinha transparente. A srta. Jennifer fica mais à vontade e tio Dave fica muito mais inspirado.
A primavera chega a São Paulo como uma leoa supersexuada. Ela salta para fora de nosso inverno de chacoalhar os ossos e num instante vira verão. Aqui em Sampa a primavera parece durar mais ou menos 24 horas, e depois já entramos na temporada do cio.
Sim, aqui em Sambalândia o verão começa cedo e se prolonga até tarde.
Sob o horizonte urbano agressivo de São Paulo, a psicologia do paulistano é arrasadora. O sol e o calor incomum parecem trazer à tona tudo que existe de pior na vida daqui.
A cidade está imunda e as ruas estão lotadas de carros fazendo o possível para quebrar seus eixos, enquanto caem e saem fora das crateras descobertas que enfeitam o asfalto paulista como uma espécie de sarampo urbano.
O prefeito anuncia um novo plano que vai impor mais impostos que o paulistano não terá como pagar, porque Brasília também está com alguns planinhos bem legais de impostos novos prontos para sair do forno.
Pensamentos terríveis e sentimentos medonhos fervilham e chegam à superfície. A vida é insuportável, mas todo mundo tem a mesma idéia brilhante ao mesmo tempo: "Foda-se o chefe, vamos desligar o ar condicionado e curtir uma legal".
À medida que a temperatura se eleva, o pânico sexual começa a tomar conta da cidade.
Não há nada como uma cheiradinha de "Eau de Suor Leve" para fazer um cara ou uma garota começarem a pensar na coisa certa. A chegada do clima de verão pode ser uma festa para os instintos atávicos de acasalamento.
Como disse um colega meu, nada fino: "A fartura da terra fica mais sexy entre a chegada da primavera e o início do verão -madura, em plena flor e pronta para ser colhida, cheirada, lambida e engolida". Portanto, Joãozinho, não se esqueça: a castidade, especialmente nos meses de calor, constitui seu próprio castigo.

Querida doutora
Enquanto ainda estamos falando no assunto confusão sexual, achei que você talvez se interessasse no segundo relatório altamente esclarecedor sobre a conduta dos gringos. Em um grupo de médicas canadenses entrevistadas, 77% relataram já ter sido sexualmente molestadas por seus pacientes.
* Porcentagem das que disseram que os pacientes fizeram "comentários sexuais": 59.
* Porcentagem das que relataram ter recebido "olhares sugestivos" de pacientes: 53.
* Das que disseram haver testemunhado "exposição sugestiva de partes do corpo de pacientes": 31.
* Das que contaram ter sido objetos de "contatos físicos grosseiramente indecorosos" por parte de pacientes: 4.
* Das que disseram ter sido vítimas de estupro ou tentativa de estupro por parte de pacientes: 44.

Sexo é divertido?
Você certamente deve lembrar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recentemente fez uma importante contribuição para o conhecimento humano do homem (e/ou da mulher), quando divulgou sua estimativa acerca das atividades sexuais humanas.
A OMS acredita que acontecem diariamente pelo menos:
* 100 milhões de relações sexuais.
* 910 mil concepções.
* 365 mil casos de doenças sexualmente transmitidas, e
* 150 mil abortos, resultando na morte de 500 mulheres devido à falta de higiene ou outras condições inseguras.
Perturbado com os comentários zombeteiros de alguns repórteres cínicos, o diretor da OMS, um certo Mahmoud Fathalla, defendeu a pesquisa, afirmando com certo grau de rispidez: "Não é... uma sondagem que realizamos a nível mundial para descobrir o quanto as pessoas estão se divertindo pelo mundo afora".

Dendrofilia aguda
Acho que certamente concordaríamos que falar sobre aquilo é quase tão divertido quanto fazê-lo de fato, embora não tanto. A "Details" é uma publicação instigante especializada em educação sexual para adultos. Embora eu ainda não tenha atingido a maturidade completa do estado adulto, às vezes empresto um exemplar da revista de meu padre, que se interessa profissionalmente pelo tema.
A revista recentemente divulgou uma lista de termos carinhosos que eu achei que poderiam ser úteis a você, Joãozinho, para ajudar a ampliar teu vocabulário e te orientar em tua árdua viagem pelas voltas e reviravoltas desta vida complexa.
Agalmatofilia - Atração por estátuas ou manequins de vitrine.
Anasteemafilia - Atração por uma pessoa devido a sua diferença de altura.
Axilismo - O uso da axila no ato sexual.
Crematistofilia - Excitação sexual decorrente de ser roubado ou ter que pagar para fazer sexo.
Dacrifilia - Excitação sexual decorrente de ver lágrimas nos olhos do parceiro.
Formicofilia - Prazer na utilização de insetos para fins sexuais.
Nasofilia - Excitação sexual decorrente de ver, tocar, lamber ou chupar o nariz do parceiro.
Oculolinctus - O ato de lamber o globo ocular do parceiro.
Siderodromofilia - Excitação decorrente de viajar de trem.
Sacofricosis - A prática de cortar um furo num bolso da frente da calça, para poder se masturbar em público com risco menor de ser detectado.
Emetofilia - Excitação sexual decorrente do ato de vomitar ou de ver vômito.
Tafefilia - Excitação sexual decorrente de ser enterrado vivo.
Dendrofilia - Atração por árvores.
Sou voluntário, chefe!
Saiu um livro sobre sexo que contém notícias quentíssimas. O livro se chama "The Perfect Fit" (O Encaixe Perfeito). Ele advoga uma nova (será que ainda existe alguma novidade relativa ao assunto sexo?) posição sexual chamada CAT (iniciais em inglês de "técnica de alinhamento copular") que, segundo consta, possibilita que as mulheres tenham orgasmos mais frequentes. Os editores de uma revista chamada "Self" procuraram jornalistas interessados em testar a técnica e documentar seus resultados para ela.
Eles abordaram vários jornalistas, pedindo que fizessem a matéria. Quase todos recusaram a tarefa, pela qual a revista pagaria US$ 1.500. Isso só pode ser algum tipo de reflexo do estado em que se encontra a moral na Gringolândia. Vá entender, Joãozinho!

Tradução de Clara Allain

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