São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Jazzie B oferece mais do mesmo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Disco: Volume 5 - Believe
Banda: Soul II Soul
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 20 (o CD, em média)

Aterrissa na próxima semana em lojas brasileiras o disco "Volume 5 - Believe", quarto trabalho da banda pop inglesa Soul II Soul.
O "5" do título não é engano. Uma coletânea, lançada no ano passado, foi batizada de "Vol. 4", em manobra esperta para vender discos entre os seguidores mais fanáticos.
No mais, o novo capítulo da série é puro Soul II Soul. Avança mais um passo na trilha aberta em 1989 com "Club Classics Vol. 1", à época saudado como verdadeira revolução no mundo pop.
O escândalo não era gratuito: o grupo de Jazzie B foi dos primeiros a mergulhar na estética "discothèque" dos anos 70 para encharcar a matriz soul de um balanço pop para as multidões.
O resultado foram baladas climáticas e hipnóticas como "Keep on Movin", disco music chique embalada de presente para os 90.
Discípulos não faltaram daí em diante. Madonna e Bjõrk, por exemplo, beberam da fonte. Até por aqui o som Soul II Soul recrutou seguidores. Já em 1990, Fernanda Abreu debutava brilhantemente, influenciada em larga escala pela banda.
(É aliás um integrante da confraria, Bill Mowatt, o produtor-chefe de "Da Lata", novo disco de Fernanda, que estranhamente optou por temperar a universalidade do som Soul II Soul -e do seu próprio- com repentino ataque de enjoativo provincianismo carioca.)
Injustiças deste novo mundo veloz. Seu som continua tão bacana quanto no começo. "Joy", épico romântico e sacudido do terceiro -e subestimado- disco ("Vol. 3 - Just Right"), é prova cabal.
É o caso do novo disco. "Believe" abre com "Love Enuff", uma das mais geniais criações da história da banda.
Tem tudo que fez sua fama: voz arrepiante de uma diva negra (Penny Ford), batida entorpecente, melodia pop irresistível, refrão. Como novidade, resquícios de psicodelismo na introdução.
O disco se desenvolve com várias doses de cultura Soul II Soul: límpidas vozes de mulheres negras, o canto-fala de Jazzie B, climáticas faixas instrumentais.
Aí talvez resida a flacidez do entusiasmo frente ao grupo: o padrão de qualidade é mantido, mas a cada novo disco o grau de novidade a oferecer é menor.
Soul II Soul deixa de ter mistérios, torna-se facilmente decodificável. É caso de querer mais do mesmo ou não; quem não gostou dos últimos não vai gostar deste.
Mais munição os detratores vão encontrar na instrumental "Zion", mistura de embalos de John Travolta no sábado à noite com tum-tum-tum tenso de filme de 007. Ou seja, Jazzie B é certamente mais um dos fãs de "Pulp Fiction". Nada original, mas OK.
Verdadeira bomba autodestrutiva mesmo é "Be a Man", um baladão meloso e melodramático que faz frente ao acervo da gritalhona Whitney Houston.
É, admitamos, o momento em que uma das bandas-símbolo dos 90 chega pela primeira vez perto de um fundo-de-poço. Sorte que há "Love Enuff" e outras -quase- equivalentes para purgar dores e sacrifícios.

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