São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Garra, coragem e competência

JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

Mais do que vontade para resolver a questão agrária brasileira, o governo Fernando Henrique Cardoso tem garra, coragem e competência. Por isso, a agricultura é uma das cinco prioridades delineadas na gestão.
Reclama-se, com razão, da ausência de uma política agrícola no Brasil. De fato, até hoje só houve políticas de safras, com crédito subsidiado e preços mínimos que, por causa das distorções, terminam se tornando preços máximos.
Deve-se considerar que, de início, devido à diversidade de solos, climas e características culturais, são demandadas várias políticas agrícolas que contemplem a vocação de cada região, Estado, município, chegando mesmo até o nível da propriedade.
O novo modelo agrícola está sendo desenhado de baixo para cima, com critérios técnicos e sérios, não podendo ser limitado por questões e interesses de natureza política.
Esse modelo precisa definir com precisão quanto e onde deve ser plantado que produto, a que custo e para ser destinado a que consumidor. Por isso, o governo está fazendo, pela primeira vez na história, um completo zoneamento agrícola, para detectar regimes de chuvas e capacidade de absorção de água pelos variados solos das microrregiões, detalhando a vocação agrícola de cada pequeno pedaço do território nacional.
O zoneamento agrícola é um instrumento importante para a definição do novo modelo agrícola nacional, mas, evidentemente, não é o único. Esse modelo terá de partir de uma premissa básica: a de que o mercado cuidará da agricultura capitalista, ficando ao governo o encargo de apoiar a agricultura de subsistência.
Para isso, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), para o qual foram destinados, este ano, R$ 1,65 bilhão em linhas de crédito subsidiado. Conselhos municipais de desenvolvimento rural decidirão em que projetos serão aplicados outros recursos orçamentários. Três senhas podem definir esse esforço: descentralização, desregulamentação e parceria em todos os níveis.
Obediente ao primado do social e dentro do propósito de gerar empregos na área rural e evitar o êxodo para as cidades, o governo Fernando Henrique Cardoso já assentou, em oito meses, 14,6 mil famílias de trabalhadores sem terras, ultrapassando a média dos últimos cinco anos, inferior a 10 mil famílias por ano.
O ambicioso programa de reforma agrária, anunciado pelo presidente, de assentar no primeiro ano 40 mil famílias e ainda dar terra às 16 mil famílias de acampados será cumprido à risca.
Para evitar desperdícios e tirar a pecuária de corte brasileira do grande atraso em relação à média dos países mais ricos, competidores fortes no mercado internacional, o governo elaborou um programa de estímulo à criação do novilho precoce.
O programa tem uma visão globalizante da pecuária comercial: vai do sêmen ao bife. A palavra de ordem é fazer o produtor lucrar e oferecer ao consumidor produtos de qualidade a baixo preço. Quando todos ganham, ganha o Brasil.

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