São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Ensino religioso

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A maior alegria para a pessoa humana é a de descobrir a presença de Deus, de saber-se amada por Ele como Pai, aprender com Ele a estimar e a querer bem a todos com amor gratuito. Sem essa descoberta a vida fica mesquinha, involuída sobre si mesma, sem horizonte de transcendência, sem esperança de felicidade.
Neste mundo de desrespeito ao próximo, de injustiças e violência, percebemos melhor a necessidade de fundamentar a dignidade da pessoa humana à luz da relação com o próprio Deus.
A formação religiosa começa no próprio lar, na palavra e no testemunho dos pais e parentes que, ao transmitirem a vida, comunicam, também, os valores em que acreditam. Os valores religiosos pertencem ao núcleo desse patrimônio.
A escola continua e ajuda a completar a formação familiar. Deve haver harmonia e continuidade, sob pena de ruptura e conflito na educação da criança e do adolescente. Daí a necessidade do ensino religioso na própria escola que respeite e leve adiante a riqueza educativa oferecida pelos pais.
Pertence, assim, aos continuadores da educação familiar, na escola, transmitir e fortalecer o conhecimento da dignidade espiritual do ser humano, sua liberdade e abertura a Deus, que explica a origem e sentido do mundo, da pessoa e da história, da atração à verdade e ao bem, que garante os valores éticos, normativos do comportamento pessoal e da solidariedade com os demais.
O ensino religioso precisa ser ministrado na escola, uma vez que é nesse ambiente que a criança e o adolescente recebem a nova fase de sua educação. Deve haver intercâmbio e integração entre pais, mestres e educadores para que o ensino interdisciplinar seja coerente, harmonioso e consolide as convicções profundas do aluno.
Na sociedade e, portanto, na escola pública, o ambiente é de pluralismo religioso. O sadio pluralismo, porém, inclui a identidade de cada pessoa às suas convicções. Na sociedade pluralista, temos todos que ajudar a criança, desde cedo, a ter respeito e estima aos demais e a encontrar os princípios e valores religiosos, as motivações mais profundas e adequadas à própria vida moral, bem como ao diálogo fraterno e à convivência pacífica. Assim, na escola, o adolescente cristão aprenderá a conhecer melhor Jesus Cristo, sua vida, sua doutrina, confiança no Pai, o amor gratuito e universal, o perdão, a missão da igreja e tantos outros valores.
A diversidade de convicções religiosas nasce já nos diferentes ambientes familiares e é prévia à escola. O ensino religioso, ministrado por educadores competentes, não cria nem acentua essa diversidade, mas auxilia para que cada um saiba -a partir das próprias convicções- dar, desde cedo, o testemunho de seu amor à verdade e de respeito ao próximo na lenta e difícil procura dessa mesma verdade.
A organização concreta do ensino religioso que atenda às diferenças de formação familiar e convicções pessoais merecerá especial atenção da direção pedagógica. Assim como há vários horários para disciplinas especiais, poderá, sem grande dificuldade, haver a conveniente diversificação de grupos para o ensino religioso.
O importante, neste momento em que se examina o artigo 210 da Constituição, é assegurar ao aluno, no ambiente escolar, no conjunto dos elementos formativos, a presença do ensino que oferece a doutrina e os valores religiosos, sem os quais não haverá a integração profunda de sua personalidade.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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