São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Esquerda 21' traz constatações óbvias

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A revista "Esquerda 21", que acaba de ser lançada por um grupo de parlamentares da esquerda dita "light", pode até funcionar como embrião de um novo partido, mas em matéria de reflexão sobre o presente não avança uma vírgula em relação ao que já se discute (melhor) nas páginas dos jornais.
Seus autores, que vão do PT ao PMBD, passando por PDT, PSDB e PPS, parecem indecisos entre o espanto diante de uma realidade que insiste em lhes puxar o tapete e a constatação óbvia de que a esquerda precisa de ar renovado.
A melhor imagem para definir a situação em que se encontram os membros da revista é a do barão de Munchhausen, que pretendia sair do pântano em que estava atolado puxando os próprios cabelos.
Como não se trata de uma publicação com pretensões teóricas, mas políticas, é compreensível que a reflexão ali contida seja ligeira e esteja submetida às urgências do contexto mais imediato.
Não é difícil enumerar o ideário político que alimenta o grupo: defesa da democracia como valor universal, aceitação do mercado como um dado incontornável da cena contemporânea, crítica do estatismo, distinção entre o que é público e o que é estatal, abandono do ideal revolucionário em benefício de práticas reformistas e substituição do conceito de classe operária pelo de cidadão como principal agente social.
A idéia do que vem a ser uma política de esquerda se torna tão elástica, seus contornos tão gelatinosos e indefinidos que corre-se o risco de transformá-la numa questão meramente semântica.
Ainda que se conceda, como quer o deputado José Genoino (PT), que o tema da igualdade social ainda seja o valor fundamental da esquerda, isso permanece muito vago. O que significa, hoje, igualdade social? Reduzir o número de famintos no país?
Se for assim, o que parece sensato, alguém pode argumentar que o avanço capitalista que o presidente Fernando Henrique está tentando promover no país tem por meta atacar a miséria, incorporando o maior número possível de excluídos às malhas do mercado.
É claro que se deve desconfiar dessa empreitada quando se leva em conta não apenas a história dos parceiros do governo como o novo desenho da ordem internacional, cada vez mais disposta a descartar o trabalho para cumprir seu ciclo vitorioso.
Se para a direita isso não é exatamente um preocupação, para a esquerda parece ser um problema cada vez mais sem solução.

Texto Anterior: Parlamentares fazem emendas eleitoreiras
Próximo Texto: Freire quer mudar emenda da Petrobrás
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.