São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995 |
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Vice do Pará diz que não é fantoche do governador
ESTANISLAU MARIA
Gueiros Jr. assumiu o governo no último dia 8 e, na ausência do governador Almir Gabriel (PSDB), que viaja pela Ásia até o dia 23, fez mudanças no governo. "Para marcar território", Gueiros Jr. exonerou o chefe da Casa Militar, coronel Roberto da Rocha Kós, e recebeu sindicalistas, o que sempre era recusado por Gabriel. Tudo para mostrar descontentamento com uma aproximação entre Gabriel e o senador Jáder Barbalho (PMDB). Leia os principais trechos da entrevista: Agência Folha - Por que o sr. fez mudanças no secretariado assim que assumiu interinamente o governo? Hélio Gueiros Jr. - Eu queria marcar minha posição contrária à possível aliança entre o governador Almir Gabriel e o senador Jáder Barbalho. Exonerei alguns auxiliares para mostrar meu descontentamento e depois disse que não aceitava a aliança. Agência Folha - Por que esperou o governador viajar? Gueiros Jr. - Ele me comunicou da aliança no dia da viagem. Não peguei ninguém de surpresa. No mesmo dia, eu confirmei ao governador que iria exonerar o chefe da Casa Militar. Eu disse que respeitava, mas não aceitaria em hipótese alguma uma aliança. Agência Folha - Por que em hipótese alguma? Gueiros Jr. - Eu não aceito as práticas políticas do Jáder. O Jarbas Passarinho (do PPB, candidato de Jáder ao governo do Pará na eleição de 94) foi ministro dos governos militares e perseguiu meu pai e o pai do Jáder. Eles foram presos políticos. Como o Jáder podia apoiar o homem que encarcerou o pai dele? Agência Folha - O PFL, seu partido, abriga políticos que foram da Arena e do PDS. Gueiros Jr. - Tu acreditas em partido no Brasil? Eu não acredito. Agência Folha - Por quê? Gueiros Jr. - Porque não existe. O PT é um partido tão fisiológico como outro qualquer. Todos os partidos são fisiológicos. Agência Folha - Até o seu? Gueiros Jr. - Algumas pessoas não são fisiológicas. Não existe esse negócio de partido. Eu não sou. Com honrosas exceções, todos são fisiológicos: PT, PSB, PDT, PV, PMDB, pê qualquer coisa. Agência Folha - Como governar sem partidos? Gueiros Jr. - Pelas propostas. É trabalhar com pessoas. Os partidos não têm ideologias. Se as pessoas têm pontos comuns, elas trabalham juntas. Agência Folha - O sr. acredita no "é dando que se recebe"? Gueiros Jr. - Por que teria de dar para receber? Se nós não compusermos, não dá para governar. Agência Folha - Como o sr. analisa o acordo PSDB-PFL que elegeu e que sustenta Fernando Henrique Cardoso? Gueiros Jr. - Não fale em partidos. Eu falo em pessoas. O PSDB em nível nacional está com PFL, mas em outro canto está com o PDT. Aqui no Pará tivemos uma salada geral que juntou PFL, PSDB e PPS na eleição de Almir Gabriel. É tudo uma geléia geral, como diz o Gilberto Gil. Agência Folha - Então como se sustenta a política nacional? Gueiros Jr. - Por nomes. Tem o Antônio Carlos Magalhães, tem o FHC, tem o Leonel Brizola, tem o Miguel Arraes, o Lula. Tira o Lula do PT e eu quero ver o PT ficar integrado. Agência Folha - O sr. acha que a discussão entre o governador de São Paulo, Mário Covas, e ACM é sinal de esgotamento da aliança PSDB-PFL? Gueiros Jr. - O ACM e o Covas estão certos de lutar pelos seus bancos. Se o Banco Central cobre o rombo do Banespa para pagar os correntistas paulistas, tem de cobrir o rombo do Econômico para pagar os baianos. Agora, Angelo Calmon de Sá (ex-presidente do Econômico) e os dirigentes do Banespa têm de ir para a cadeia. Agência Folha - Segundo o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Zenaldo Coutinho (PSDB), seria apenas um acordo de bancadas. Gueiros Jr. - O governador me comunicou que estava fazendo uma aliança com o Jáder. Não quis nem saber detalhes. Agência Folha - Gabriel não recebe os sindicalistas do funcionalismo público, argumentando que os sindicatos são ilegítimos. O sr. recebeu esses sindicalistas. Isso faz parte da estratégia de marcar território? Gueiros Jr. - Exatamente. É uma posição pessoal minha. Se o Almir acha que pode conversar com o Jáder, por que eu não posso conversar com servidores? Agência Folha - O sr. não teme fazer papel de bobo se o governador Gabriel voltar e desfizer todas as suas ordens? Gueiros Jr. - Eu não sou fantoche do governador. Eu fiz o que achei correto. Ele que faça o que achar correto. Eu tenho a minha independência. Quando eu sou governador, eu sou governador. O povo vai julgar em outras eleições. Isso, se houver racha. Eu não briguei com ninguém. Agência Folha - Se Gabriel fizer o acordo com Jáder, o sr. renuncia? Gueiros Jr. - (Risos) Nem brincando. Vou continuar sendo governador, quero dizer (mais risos), vice-governador, até o último dia do governo. Agência Folha - Por que o sr. acha que o acordo seria nocivo para o Estado? Gueiros Jr. - O Pará está destruído. Não tem estradas. Não tem energia. O povo repudiou o candidato dele (de Jáder). Foram 350 mil votos de diferença. Agência Folha - O que sua coligação vai fazer para melhorar o Pará? Gueiros Jr. - Eu acho que com seriedade se faz muita coisa. A administração é do Gabriel. Ele diz que é com seriedade, com austeridade, não superfaturando obras. É dessa maneira que se pode recuperar o Estado. Agência Folha - Essas crises entre os partidos são as preliminares pela disputa da Prefeitura de Belém em 96? Gueiros Jr. - Eu posso garantir que não sou candidato a prefeito. Fico vice até 98. Agência Folha - E a atual aliança PSDB-PFL? Gueiros Jr. - Tudo vai depender dos acontecimentos. Eu, meu pai (o prefeito de Belém, Hélio Gueiros) e o ex-governador Alacid Nunes (ex-presidente regional do PFL, que renunciou ao cargo na semana passada) marcamos posição. Todos contrários à aproximação com o Jáder. E os deputados? Não fazem nada? É por isso que eu digo que esse negócio de partido é tênue para cacete. Onde está a coerência? Texto Anterior: Pão-duro radical Próximo Texto: Exoneração foi "kafkiana" Índice |
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