São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente defende ritmo das privatizações

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BRUGES

Com muito cuidado para não criticar o PFL como um todo, o presidente Fernando Henrique Cardoso adotou ontem um discurso idêntico ao do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, no que diz respeito à pressa para fazer privatizações.
Perguntado se os empresários europeus, com os quais se reunira na véspera, haviam feito cobranças sobre eventual lentidão nas privatizações, FHC respondeu:
"Eles sabem mais de privatização do que alguns brasileiros que pedem pressa. Sabem que tem de fazer direito".
Essa foi a frase gravada pelas duas emissoras brasileiras de TV que acompanham a visita presidencial, o que dará ainda mais força ao aspecto de alfinetada no PFL.
Afinal, entre os brasileiros que têm feito duras críticas à lentidão nas privatizações e também ao discurso de Motta contra a pressa no processo estão algumas das lideranças mais expressivas do PFL.
Mas, na entrevista aos repórteres da mídia impressa (que as TVs não acompanharam), o presidente fez um punhado de ressalvas a respeito das cobranças do PFL.
"Não é o PFL no seu conjunto. É um ou outro que está alertando o governo, o que é o papel deles", afirmou.
Deu até o exemplo do ministro das Minas e Energia, Raymundo Britto, que é do PFL.
"Conversei muito com o ministro Raymundo Britto sobre a necessidade de acelerar a lei do petróleo. Ele me disse que é muito complexa e não dá para fazer sem que haja uma análise profunda", relatou o presidente.
Mas, ressalvas inevitáveis à parte em uma conversa que estava sendo gravada, o fato é que o presidente fez aos jornalistas -e relatou ter feito também aos empresários europeus- o mesmo discurso de seu ministro Sérgio Motta.
"Eu quis dizer a eles (empresários) o seguinte: nós vamos privatizar, mas nós vamos querer vender bem e não na bacia das almas", contou.
Disse também que o fato de o governo não pretender que o Estado seja produtor direto "não quer dizer que ele não tenha de estar pensando no bem estar da população e no interesse público".
Para FHC, "isso implica criar mecanismos de fiscalização e de monitoramento de investimentos".
As cautelas que diz defender no processo de privatização não significam, no entanto, que o presidente ache que se deva ir devagar na matéria.
"Não tem de ter calma, não. Dei aos empresários o exemplo de que já no meu governo pusemos para funcionar as concessões de Itá, Igarapava e Serra da Mesa. Só aí são R$ 2 bilhões. Temos mais umas 15. Isso aí pode ir rápido e vai rápido", disse.

Texto Anterior: Tramar contra Malan é inútil, diz FHC
Próximo Texto: Passeio vira excursão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.