São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Edinho jogou como goleiro de time grande

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Bastou Edinho cumprir uma performance de goleiro de time grande, enquanto a zaga central se firmava com a presença do garoto Jean, para o Santos dar a volta por cima no torneio no qual se arrastava lá pelas rabeiras.
Sim, porque este tem sido o calvário santista: sua defesa instável e vulnerável, apesar de toda a proteção que Gallo e Pintado (ou Carlinhos) têm-lhe dado. Pois, do meio-campo para a frente, é um time para jogar de igual para igual com qualquer outro. E com uma vantagem: Giovanni, um craque capaz de desequilibrar as partidas, embora, sábado, na vitória de 2 a 0 sobre a até então invicta Lusa, tenha sido discreto.
Discreto, mas nem tanto. Afinal, o primeiro gol, de Robert, nasceu de uma sutil triscada na bola de Giovanni, que deixou o companheiro na cara de Neneca. E o segundo foi de sua inteira autoria.

Já o São Paulo segue em busca de uma identidade neste Brasileiro: Telê mexe daqui e dali e lá vem chumbo. No sábado, foi em Salvador: 1 a 0 para o Bahia.
No papel, o meio-campo tricolor é de primeira, qualquer que seja a combinação feita com Cerezo, Alemão, Donizete, Denílson, Juninho, Palhinha, Mona, Sierra, sem contar o menino Pereira, prestes a ser efetivado, e o recém-chegado Alexandre, que ainda não estreou.
Mas, nas quatro linhas, a escrita é outra. É bem verdade que, se a volta de Gilmar à zaga firmou aquele setor, o ataque continua de uma esterilidade absoluta.
Caio, que pintou como grande revelação de artilheiro, visivelmente dá a cada passe, a cada chute, a densidade de uma jogada decisiva de Copa do Mundo. Catê, um diabrete nos dribles e arrancadas, limita-se a tocar de primeira, quase sempre nos pés dos adversários. Amarildo, bem, Amarildo me faz lembrar de Mickey, aquele centroavante tosco que, nos anos 70, desembarcou no Morumbi, aos 35 anos de idade, e quase ceifou no nascedouro a carreira de Serginho.
Em suma: está na hora de o estrategista Telê mudar de estratégia: olhar menos os pés e mais a alma dos jogadores.

Lá se foi o Dirceuzinho, no trágico caminho que parece ter sido traçado para os nossos craques. Logo ele, que era de hábitos tão regrados. A imagem recorrente que tenho de Dirceu é numa mesa do Fiorentina, no Rio, nos anos 70, madrugada alta, e ele tomando sopa e guaraná, para espanto da boemia circundante.
Curioso que Dirceu pagou um alto preço no futebol, exatamente pela dedicação com que ia à bola, pelo empenho com que ocupava todos os espaços, pelo seu alto senso de solidariedade. Ninguém valorizava seus dribles curtos, seus passes longos e precisos, seus chutes fatais de média e longa distância, seus cruzamentos precisos. Não, o que se via em Dirceu era a reedição de Zagalo, o ponta que não era ponta, embora fosse. E, por isso, foi execrado. E, por isso, disputou três Copas, só não cumprindo a quarta por uma contusão. Foi a resposta em vida.

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