São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995 |
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Cerimonial impede "propaganda" da VW
DO ENVIADO ESPECIAL A BONN O chefe do Cerimonial da Presidência, embaixador Júlio César dos Santos, impediu ontem, à força, que o presidente Fernando Henrique Cardoso servisse do que ele chamou de "garoto-propaganda" para a Volkswagen.Foi no início da visita do presidente ao QG mundial da fábrica alemã, na cidade de Wolksburg. Quando percebeu que o relações públicas da empresa, O. F. Wachs, encaminhava a comitiva para onde se encontravam dois automóveis e dois ônibus da VW fabricados no Brasil, o embaixador empurrou Wachs aos gritos. Visitante e presidente Wachs, surpreendido, disse que FHC era "visitante da fábrica". Mas Júlio César respondeu: "É o presidente do meu país." FHC caminhava ao lado de Ferdinand Poech, presidente mundial da empresa, e do espanhol José-López de Arriortúa, vice-presidente de Operações. Em vez de dirigir-se aos veículos, estacionados em frente à entrada principal, o presidente foi direto para o edifício-sede. No terceiro andar, o da diretoria, a discussão continuou e em tom mais acesso ainda. Miguel Jorge, vice-presidente da Volks brasileira, quis apresentar Wachs a Júlio César, que rebateu no ato: "Com você, eu não falo. O presidente não é garoto-propaganda." O embaixador chegou a discutir também com Miguel Jorge, alegando que já havia avisado um certo Paulo, cujo sobrenome a Folha não conseguiu ouvir, de que não queria o presidente fotografado diante de veículos. Wachs murmurou algo que parecia uma explicação, mas o repórter não conseguiu ouvir. O embaixador não aceitou a suposta explicação. "Levá-lo (ao presidente) para a frente dos veículos, com toda a imprensa brasileira atrás, não é servir de garoto-propaganda?", perguntou. Artimanha Aos poucos, os interlocutores foram se acalmado, enquanto FHC e o presidente mundial da Volks faziam seus discursos protocolares. À saída, o incidente ia se repetir. O pessoal da Volks avisou os jornalistas de que FHC seria fotografado diante dos veículos. O embaixador Júlio César ouviu, mas preferiu desta vez usar uma artimanha, em vez de discutir. Simplesmente bloqueou o trânsito na alameda que dá para a porta principal da Volks, diante da qual estavam parados um caminhão L-80 e outro 35-300, o Pointer GTi de placa WOB CW 929 e a "perua" Quantum GLSi chapa WOB VM9. Quando os carros da comitiva oficial saíram da porta lateral, em vez de dobrarem em direção à porta principal, foram direto para onde se encontrava a bandinha da VW tocando "Aquarela do Brasil". "Comigo, não", saiu sorrindo, triunfante, o embaixador. À Folha, explicou seus motivos: "A visita aqui tinha um caráter simbólico. O de demonstrar que, se há investimentos especulativos no Brasil, há também investimentos produtivos. Mas servir de garoto-propaganda é inaceitável". Texto Anterior: Investir no Brasil é bom negócio, diz FHC Próximo Texto: Governo quer vender mísseis Índice |
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