São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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O Palmeiras jogou com a alma campeã

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o Palmeiras jogou, no Pacaembu, como campeão. É time com pedigree. Até agora, no Brasileiro, não vi nada melhor.
João Belmiro faz um arroz carreteiro como poucos. O David Zingg, que já experimentou, pode afiançar a opinião.
Mas, em 1962, a estrela de João Belmiro estava marcada para brilhar em outra cozinha. Na cozinha da zaga defensiva do Barretos Bull's.
Pouco tempo antes, o time de profissionais do Barretos Esporte Clube havia nascido da fusão das duas grandes forças rivais da cidade, o Fortaleza -que forneceu o estádio que ficou conhecido como o Alto da Rua 20- e o Barretos.
Para o ano do bi-campeonato mundial brasileiro, o Touro do Vale teria o seu evento de gala. Receberia o São Paulo, de Poy, de De Sordi, da figura impecável do Bellini (jamais haverá um capitão como ele), do grande Roberto Dias, do Faustino, do Prado, do Benê e... do Canhoteiro.
China, que já havia jogado no São Paulo, era o técnico do Barretos. Preparou o nosso João Belmiro durante um mês para marcar o incrível Canhoteiro -considerado pelo Chico Buarque como o melhor ponta esquerda de todos os que o compositor já viu jogar.
Era a chance da consagração do lateral barretense, que se empenhou bastante nos treinamentos:
- Ele só dribla para o lado esquerdo, drible curto, ensinava o técnico China.
O jogo era o acontecimento do ano. Para aumentar a renda -já que o velho estádio só contava com pequenas arquibancadas de madeira- foram colocadas cadeiras literalmente de pista (isto é, dentro do campo, encostadas no alambrado).
Lembro que a cidade parou em frente ao acanhado hotel Central, atrás do grupo escolar, para ver o time do São Paulo. Um médico, que se preocupa com o levantamento da memória local, recorda que, um pouco antes do jogo, o radialista e deputado Nadir Kenan teve uma crise de úlcera hemorrágica e vomitou sangue.
Todos os olhos de Barretos aguardavam o time do São Paulo. Entra o tricolor, com as duas faixas atravessando o peito alvo, distintivo triangular no centro. Cadê o Canhoteiro? Nada do Canhoteiro. Em seu lugar estava o Agenor, diziam que contratado do Batatais.
O Agenor fez a festa em cima do nosso João Belmiro. Inclusive um gol, de pé direito. No intervalo, o técnico China vai cobrar explicações do pobre Belmiro. E ouve como resposta:
- Ué, mas o senhor não disse que o homem só saía pelo lado esquerdo? Até agora ele só saiu pelo lado direito.

Se o encontro com a glória de anular o Canhoteiro não chegou para o João Belmiro, ele veio para o time do Barretos, que venceu aquele jogo por 5 a 2.

O Silvio Lancellotti, mostrou por A mais B, porque o Santos, de Pelé, seria melhor do que o Real Madri, de Di Stefano. Mas você poderá conferir: "Grandes Momentos do Esporte", neste sábado, na Cultura, mostrará as imagens disponíveis dos dois maiores times do futebol.

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