São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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Falência da elite

A crise financeira dos Estados, não mais apenas dos bancos estaduais, torna-se agora nua e crua. O governo de Alagoas faliu. O de São Paulo desdenha da privatização do Banespa e pede uma renegociação geral de todas as dívidas estaduais com o governo federal. No Senado, articula-se um pacote salvador.
O caso alagoano é dramático, mas não é único. Servidores com vencimentos em atraso de três a seis meses, inadimplência generalizada e falência do comércio local são efeitos em cadeia cujo desfecho já ninguém ousa prever. Os 46 postos de saúde de Maceió e a maternidade local estão fechados.
A falência de Alagoas expõe agora com dramaticidade o irrealismo absoluto e o absurdo de uma sociedade cujas elites conseguiram aperfeiçoar apenas seus discursos e suas técnicas de produção de imagens. A realidade econômica, social e institucional foi ao mesmo tempo sendo esgarçada e corroída.
A crise dos Estados é antes de mais nada o sintoma mais catastrófico de uma crise das elites brasileiras. Afinal, é na administração de Estados e municípios que se encontram não apenas os burocratas mas a camada mais alta das classes que tiveram acesso a educação, saneamento, alimentação e poder.
Em AL ou SP, o quadro se repete: nenhuma solução estrutural, nenhuma coragem para abandonar os vícios do passado.
O risco maior desse quadro já não pode ser ignorado. A falência da elite, caso não ocorram mudanças a tempo, pode ser um ingrediente explosivo que desacredita a própria democracia.

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