São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995 |
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Refletir sobre a fome Programas assistencialistas têm, como é óbvio, uma limitação intrínseca à sua própria natureza: como diz o velho ditado, melhor do que dar um peixe a um pobre é ensiná-lo a pescar. Ainda assim, para o pobre em questão, a diferença entre receber ou não um peixe significa comer ou passar fome, o que já torna os programas assistencialistas, embora limitados, válidos. A campanha contra a fome do Betinho é, sem sombra de dúvida, assistencialista, mas ela vem, cada vez com mais clareza, revelando certos méritos que transcendem à própria idéia de distribuir comida. Como a Folha revelou em sua edição de ontem, escolas de classe média de São Paulo estão participando da campanha. Para além, dos esforços arrecadadores de professores, alunos e funcionários, a participação na campanha vem ensejando discussões -formais como nos colégios que ministram disciplinas do tipo ética e cidadania ou não, pouco importa- sobre a questão dos excluídos. O despertar das futuras elites nacionais para a questão das desigualdades sociais é sem dúvida nenhuma o primeiro passo para que, no futuro, o Brasil possa prescindir de programas como o do Betinho, para que seja uma nação minimamente justa capaz de, pelo menos, alimentar seus cidadãos. Se o país é apontado por organismos internacionais como o campeão da desigualdade social, isso se deve certamente ao fato de as elites terem passado os últimos séculos sem nem ao menos refletir sobre a questão dos excluídos. Nesse sentido, a campanha do Betinho deixa de ser um programa só assistencialista para tornar-se também um programa de formação. Texto Anterior: Falência da elite Próximo Texto: Andes no Mercosul Índice |
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