São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Elo sem-terra-Sendero é de 91, diz Exército

RUI NOGUEIRA; ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documentos confidenciais do Exército informam que uma dissidência dos sem-terra -a ala mais radical, que defende a resistência armada nas invasões- está envolvida desde 1991 com o grupo guerrilheiro peruano Sendero Luminoso.
O envolvimento, iniciado com uma reunião em Lima, capital do Peru, foi detectado pelo adido militar da embaixada brasileira naquele país.
Segundo os serviços de inteligência do Exército, o elo de ligação da ala radical dos sem-terra com o Sendero foi o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).
O CIE (Centro de Informação do Exército) registrou desde 91 a presença de 12 militantes do Sendero no Brasil.
Eles teriam a função de treinar sem-terra em táticas de resistência armada. O Exército não sabe se continuam no país.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), ligado à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), ao PT e à Comissão Pastoral da Terra, rejeita a ala radical.
O lema do MST, "ocupar, resistir e produzir", virou "ocupar, resistir e defender" na ala radical.
Segundo os serviços de inteligência do Exército, a palavra "defender" significa, na prática, resistência armada às ações de despejo das polícias Militar e Federal.
O MST atribui ao grupo radical, por exemplo, a invasão da fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara (RO). No confronto com a PM, no dia 9 de agosto, morreram 12 pessoas.
Em depoimentos à comisão do CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que investigou o conflito, os líderes do MST dizem que "a ocupação não teve apoio nem do movimento nacional dos sem-terra nem da Comissão Pastoral da Terra".
O relacionamento dos sem-terra radicais com o Sendero foi mais intenso até setembro 92, data em que o Exército peruano prendeu o principal líder do grupo, Abimael Guzman. Em um ano de contato, segundo o CIE, pelo menos 12 militantes do Sendero mantiveram encontros com brasileiros.
Um dos senderistas foi localizado na Escola dos Sem-Terra em Caçador, Santa Catarina. Depois da prisão de Guzman, o grupo peruano se dividiu em dois: o Sendero Vermelho -ala que articula a sobrevivência ideológica do grupo apesar da prisão do líder- e o Sendero Negro -ala que teria sido recrutada pelo narcotráfico.
Justiça
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, negou ontem que o governo esteja investigando as relações entre os sem-terra e o Sendero.

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