São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Deflação bem-vinda

ANDRÉ LAHÓZ

A recente queda da inflação tem provocado certa polêmica sobre as formas de controle dos preços. Começam a surgir, aqui e ali, indagações sobre se o governo realmente deve perseguir desesperadamente taxas baixas de inflação.
A própria deflação nas primeiras prévias do IGP-M de setembro causou até mesmo críticas. Chegou-se a afirmar que queda nos preços não se comemora.
Discordo totalmente dessa visão. É evidente que a discussão sobre a forma pela qual os preços estão caindo é fundamental. Mas não se pode deixar de reconhecer a importância do fato.
O Brasil vive hoje um processo de desindexação da economia. É necessário que os agentes econômicos, "vacinados" após anos de superinflação, abandonem as defesas contra aumentos de preços. Essas defesas, na verdade, terminam por perpetuá-los.
Para tanto, é preciso que, a cada ano, a inflação tenha tendência declinante, principalmente nos primeiros períodos de estabilidade.
Assim, como a inflação do primeiro ano do Real foi de 35%, o segundo ano deve apresentar um número próximo de 20%.
Se isso acontecer, o país terá efetivamente dado um passo para uma economia menos indexada e com prazos de contratos bem maiores.
Caso contrário, não se pode dizer que o Plano Real acabou. Mas acontecerá um atraso de um ano, pelo menos, na desindexação.
Pode-se dizer que um processo continuado de queda dos preços (deflação) é ruim para o país. É verdade. De um lado, representa um aumento da dívida pública (pois os juros não podem ser menores que zero). De outro, mostra que a demanda dos agentes "derreteu".
Mas não é, absolutamente, o caso do Brasil hoje. Há dois tipos de deflação. Um é aquele causado por desemprego generalizado, como nos anos 30. Outro é a deflação atual, causada por queda nos preços dos serviços, que acumularam margens absurdas no último ano.
Dito isto, vale discutir a forma por meio da qual a inflação foi dominada. E aqui cabem algumas críticas.
Dois pontos merecem destaque. O primeiro é o câmbio. O segundo é o nível da atividade.
O câmbio, de fato, causa insatisfação. Há sérias suspeitas de que a recente reversão da balança comercial se deve mais a um ajuste de estoques do que a uma situação equilibrada.
Como as importações foram muito elevadas e o nível de demanda caiu muito durante o ano de 95, houve um acúmulo considerável de estoques no período.
Quando os estoques acabarem, entra em questão a competitividade dos produtos nacionais. Que passa por um ajuste no câmbio. Que, por sua vez, gera inflação.
O outro debate é sobre o nível de atividade.
É claro que o desaquecimento está acontecendo e as demissões também. Mas as recentes medidas de liberar os compulsórios e a redução (ainda insuficiente) dos juros estão melhorando a situação do comércio, como atestam os dados da Associação Comercial de São Paulo publicados ontem. Como no fim do ano há um natural aquecimento, a tendência não é má.
É certo que há setores que estão sofrendo. É certo que as políticas monetária e cambial despertam críticas. Mas não se deve abandonar, em nenhuma hipótese, o combate à inflação.

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