São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Onde o BC quer chegar?

LUÍS NASSIF

Durante meses, o Banco Central praticou as taxas de juros mais escorchantes da história, visando dois objetivos: reduzir as pressões inflacionárias e reequilibrar o balanço de pagamentos, desequilibrado por causa da atuação pregressa do próprio BC.
Exagerou o mais que pôde na dose. Nesta semana, alcançou os dois objetivos. Os índices de inflação convergiram para zero (em um dos índices, acendeu-se a luz amarela da deflação) e as reservas cambiais atingiram os níveis mais altos da história -US$ 50 bilhões. Um nível, aliás, que faz explodir a dívida interna, impondo custo desmesurado ao Tesouro.
Nesse quadro, o que esperar de homens públicos responsáveis? Reduzir o tamanho do sacrifício imposto ao país, já que política econômica é um processo dinâmico de compensações e de alterações de prioridades.
Não existe política econômica fundada em apenas um ou dois objetivos permanentes. A inflação é prioridade quando está em alta. Quando desaba e, nesse mesmo movimento, desabam também os indicadores de atividade econômica, ameniza-se o aperto e repensa-se o peso específico da política antiinflacionária. É um processo dinâmico.
Unifásico
O condutor de política econômica que se contentar com um ou dois objetivos comporta-se como, em uma empresa, o homem de custos que inviabiliza todos os departamentos com seus cortes -porque seu trabalho é cortar, não manter a empresa funcionando.
Na semana em que a inflação converge para zero e as reservas batem recordes históricos, em que as taxas de desemprego aprofundam-se e aperta-se o torniquete em cima da economia, o Banco Central simplesmente aumenta as taxas reais de juros.
Qual o objetivo dessa insensibilidade? Permitir ao mercado financeiro continuar suas operações de arbitragem em dólares para manter o fluxo cambial no país -mesmo estando sentado em cima de US$ 50 bilhões em reservas!
Nos últimos tempos, para garantir essa entrada irresponsável de dólares, o Banco Central reduziu o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas captações de eurobônus de prazos mais longos. O IOF de 5% ficou restrito a operações de até dois anos. Para prazos maiores, reduziu-se o IOF.
Repito o que disse ontem: não existe política econômica. O ministro Pedro Malan não dispõe de conhecimento amplo da economia para adaptar a política econômica às transformações dinâmicas da realidade. Tem um estilo monofásico, de quem não consegue imaginar a economia como uma realidade complexa.
Limita-se a repetir indefinidamente a única partitura que sabe tocar. E o futuro e o país que explodam.
Cotas de café
Ontem, um grupo relevante de exportadores de café insurgiu-se contra a volta da prática execrável das cotas de exportação -definidas pelo Comitê Brasileiro de Café.
No final do dia, redigiram documento informando ao Ministério da Indústria, Comércio e Turismo sua intenção de retirar-se do acordo. Segundo informam, embora respondam por 60% das exportações brasileiras, os critérios definidos pelo CBC conferiram-lhes apenas 30%.
É o velho cartório de volta.

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