São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995
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Números de sonho

CLÓVIS ROSSI

BONN - O senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), que faz parte da comitiva oficial brasileira que visita a Alemanha, ficou impressionado com os números do Estado de Hessen, no qual fica Frankfurt, principal centro financeiro alemão.
A arrecadação, disseram a Kleinubing, é de 38 bilhões de marcos (cerca de US$ 27 bilhões). Uns 4 bilhões vão para subsidiar a parte oriental do país, a que era comunista até a queda do Muro de Berlim. Dos 34 bilhões restantes, o funcionalismo, ativo e passivo, consome apenas 11 bilhões ou um terço aproximadamente.
Para quem, como Kleinubing, já foi prefeito (Blumenau) e governador, são números de sonho. No Brasil, sabe-se perfeitamente, não há um só Estado ao qual sobrem dois terços de suas receitas para investimentos ou outros gastos que não seja o estrito pagamento da folha de salários.
O pior, segundo o senador, é que não se trata de um problema de queda de receita. Pelos seus cálculos, o Estado que apresentou menor crescimento da receita, desde o Plano Real, foi o Rio Grande do Sul. E, assim mesmo, o aumento da arrecadação bateu em 42%.
O problema está no outro lado, o da despesa. O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, em uma das entrevistas dadas durante sua visita à Europa, disse que o crescimento dos gastos com o funcionalismo anda batendo em 30% anuais, sem que os governadores estejam dando reajustes além dos de lei.
Logo, a questão vai ser cortar despesas com o funcionalismo, o que é penoso politicamente, de um lado, e difícil legalmente, do outro.
Mas para Kleinubing há muito espaço para isso, até no detalhe. Conta, por exemplo, que o número de seguranças no seu apartamento funcional de senador em Brasília é maior do que no Palácio da Agronômica, a residência dos governadores catarinenses.
Os números de Hessen e dos Estados brasileiros ajudam a entender por que os governadores foram tão entusiastas no apoio à reforma administrativa desenhada pelo ministro Bresser Pereira. Trata-se de uma questão de aritmética elementar, numa ponta, e de sobrevivência político-eleitoral, na outra.

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