São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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Presidente pede investimentos no Nordeste

DO ENVIADO ESPECIAL A BONN

O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu ontem a um grupo de seis empresários, representantes da indústria alemã no Brasil, que descentralizem seus investimentos, levando-os também para outras regiões, não se restringindo apenas ao Sudeste.
O presidente citou, em especial, o Nordeste. A partir da crise provocada pela intervenção do Banco Central no Banco Econômico, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) passou a criticar o que considera a marginalização da região Nordeste no governo de Fernando Henrique Cardoso.
O pedido de descentralização dos investimentos foi relatado aos jornalistas por Hermann Wever, presidente da Siemens do Brasil.
Fernando Henrique confirmou o pedido à tarde, em entrevista coletiva. Mas deixou claro que não se tratava de parar de investir em algumas regiões para passar a fazê-lo em outras.
O presidente explicou que citara Estados de forte concentração de descendentes de alemães, como o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e havia acrescentado: "Além disso, e não ao invés de, seria bom que houvesse investimentos no Nordeste".
Perguntado se sua recomendação aos empresários para que investissem no Nordeste não causaria problemas com seus aliados do Sul e Sudeste, FHC disse: "Se a imprensa brasileira pudesse fazer mais intriga, faria".
Wever concorda e até cita as vantagens do Nordeste como área de investimento: energia elétrica disponível pelos próximos 20 anos, mão-de-obra abundante e pólos industriais já avançados em alguns Estados, como a Bahia.
Mas o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC) deixou claro que não acredita muito nessa descentralização dos investimentos.
"Ninguém mistura decisões econômicas com decisões políticas. E, se o fizer, quebra a fábrica", fulminou o senador.
A guerra entre os Estados por investimentos é tão presente que Fernando Henrique chegou a pedir, "pelo amor de Deus", para que o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Rolf Eckrodt, não lhe dissesse em que Estado será instalada a fábrica de automóveis do grupo.
O Brasil será a sede da primeira fábrica de automóveis Mercedes fora da Europa, conforme anúncio já feito no Brasil e ontem repetido por Eckrodt.
Ele deu detalhes do investimento: serão US$ 400 milhões para produzir cerca de 80 mil unidades/ano, dando emprego a entre 2 mil e 2.500 pessoas.
O Mercedes brasileiro será o que Eckrodt chama de "popular de luxo", apesar da contradição em termos.
Ou seja, um modelo de mil cilindradas, portanto na faixa dos chamados veículos populares, como o Corsa.
Eckrodt não disse nem ao presidente, nem aos jornalistas, em que Estado ficará a fábrica da Mercedes. "Todos os Estados fizeram ofertas", contou.
Mas deu uma pista: "A base da decisão (de instalar no Brasil a primeira fábrica fora da Europa) foi o Mercosul e a América do Sul".
Para abastecer o mercado dos países localizados ao sul do Brasil, o lógico é produzir o mais perto possível deles.
Também a Siemens aproveitou o encontro com o presidente para anunciar que vai fazer do Brasil o seu centro mundial de hidrogeradores (o equipamento que produz energia elétrica).
O investimento para tanto será da ordem de US$ 15 milhões, além dos US$ 40 milhões anuais que seu presidente declara investir no país.

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