São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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Pênis ficará sem nome em campanha contra Aids

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O "pênis falante" que vai participar da nova campanha contra a Aids do Ministério da Saúde e que havia sido chamado de Braúlio não vai mais ter um nome.
A partir de hoje, quando os quatro vídeos da campanha voltarem a ser exibidos pela TV, serão usadas no lugar de Bráulio as expressões "sócio", "meu", "xará", "cara", "moço", "sujeito", "homi" (de "homem") e "ele".
Adib Jatene, ministro da Saúde, determinou a suspensão da campanha no último sábado após a revolta das pessoas chamadas Bráulio.
Agora a campanha pretende ser neutra. Por exemplo, o novo jingle vai dizer "bote a touca no sujeito" e "vista a camisinha no cara". Ele vai ser interpretado novamente (em ritmo de forró) por Genival Lacerda e só deve voltar na semana que vem.
Todos os vídeos serão mantidos. Só muda o nome do pênis. Essa é a campanha mais ousada do governo de prevenção à Aids.
Um filme mostrará como usar a camisinha, passo a passo, usando um pênis de borracha. Gibis vão falar de sexo oral.
Os outros filmes mostrarão o personagem "conversando" com seu pênis durante situações de excitação sexual. Geralmente, o personagem tenta convencer o "homi" ou o "cara" da necessidade de usar a camisinha.
A música para a campanha de rádio usará a expressão "brincar lá trás" para falar de sexo anal.
O Ministério da Saúde ouviu mil pessoas sobre o novo nome para substituir Bráulio. "Não houve consenso e resolvemos deixá-lo sem nome", disse Lair Guerra de Macedo, coordenadora do programa de Aids do governo.
Segundo ela, a população ouvida pela pesquisa se manifestou contrária à adoção de apelidos como "bicho" e "fera", que foram cogitados pelo governo.
Também foram analisadas as 450 sugestões enviadas para o ministério por meio de fax, cartas e telefonemas. "Bilau" foi o nome mais citado (seis vezes).
Lair acha que a campanha corria o risco de fazer polêmica em torno do nome e deixar de lado a discussão sobre a ameaça da Aids.
O Brasil tem 71.111 casos de Aids, 80% deles entre a população masculina de 19 a 35 anos. É justamente para essa população que a nova campanha do governo quer falar. Especialmente para os homens entre 20 a 40 anos, das classes de renda mais baixa.
"Para atingir esse público, precisávamos falar de forma clara e objetiva", disse Lair. Segundo ela, pesquisa do governo revela que 80% dos entrevistados aprovam a linguagem da campanha.
Segundo Lair, essa população é informada sobre a doença, mas reluta em usar a camisinha.
Esse público, no entanto, ainda tem dúvidas sobre a doença no que diz respeito a práticas sexuais orais e anais.

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