São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995 |
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Bucicleide adorou a peça 'Violeta Vita'
BARBARA GANCIA
Tentei contra-argumentar, sem sucesso. Minha desmiolada amiga não me dava ouvidos. Engatou uma segunda e foi em frente: "O assassinato foi uma barbárie, mas, nem bem o corpo da moça foi encontrado, a família já estava pedindo indenização à Prefeitura de Nova York. Não é esquisito?" Aproveitei a deixa da pergunta para enfiar uma palavrinha no monólogo da amiga: "Não acho, não. Acho que você está sendo muito cruel, viu, dona Bucicleide?" E remendei: "O crime foi tão brutal que levou o Gilberto Dimenstein, lá de Nova York, a afirmar na Folha que se pode dizer tudo dos EUA, menos que sejam civilizados". Bucileide interrompeu rudemente: "Esse cara só pode estar com saudade de guaraná. Como é que alguém ousa dizer que os EUA não são civilizados? E o tanto de bibliotecas, museus, teatros e universidades que existem por lá? Por acaso alguém gasta mais em pesquisa do que os Estados Unidos? Por acaso existe algum lugar onde a medicina seja mais avançada do que nos Estados Unidos?" Para não desligar o telefone na cara da bicha, resolvi mudar de assunto. "Afinal, você foi ver a peça 'Violeta Vita', dirigida pela Beth Lopes?" Bucicleide se entusiasmou: "Barbarica, não queira saber! Foi a primeira vez que vi uma representação verdadeira de um relacionamento entre duas mulheres." Pedi que ela explicasse melhor. "Veja, todos os filmes pornôs que mostram mulher com mulher são feitos por homens e para homens, nunca exibem o que acontece na vida real. 'Violeta Vita' consegue transmitir toda a intensidade e a voracidade de um relacionamento entre mulheres." A essa altura, arrumei uma desculpa qualquer e desliguei correndo o telefone. Essa Bucicleide! Texto Anterior: Itamaraty paga passagens para família viajar Próximo Texto: Delírio; Bráulio revisitado; "Mudérno" Índice |
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