São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
O pacto político paulista O pacto político paulista LUÍS NASSIF O que está em jogo no pacto político paulista em torno da manutenção do Banespa estatal não é o interesse nem a honra do Estado. É um modo de fazer política. Não há grupo político que tenha passado incólume pelo Banespa.No governo Maluf, o banco foi utilizado para a concessão de empréstimos rurais (que tinham taxas subsidiadas) para políticos de todo o país, magistrados e autoridades em geral, dentro do esquema de financiamento de sua candidatura à Presidência da República. No governo Montoro, o banco garantiu emprego de jornalistas (e não na assessoria de imprensa, que é seu lugar legítimo) e de políticos nordestinos peemedebistas derrotados nas eleições. Concedeu empréstimos temerários a senadores do partido e suas verbas de publicidades eram definidas politicamente no Palácio dos Bandeirantes. No governo Quércia, operações suspeitíssimas levaram à demissão de seu primeiro presidente, Otávio Ceccato. No final do governo, o controle estatal sobre o banco permitiu as famosas operações de ARO (Antecipação de Receita Orçamentária) que deixaram o banco e o Estado na situação em que se encontram hoje. Sem exceção No governo Fleury, dois esquemas atuaram pesadamente no banco. Um integrado por pessoas ligadas ao primeiro-irmão, Lilico. Outro, por pessoas com atuação destacada entre os tucanos, ligadas ao então secretário da Fazenda Frederico Mazzuchelli. No governo Covas, por pouco não foi indicado presidente do banco o principal implicado nas irregularidades da gestão anterior, um tucano militante, de carteirinha, que participou de todas as etapas do chamado "caso Vasp", da privatização à concessão irresponsável de empréstimos. Se não há registro de atuação no PT, a não ser na coordenação das demandas corporativistas, foi simplesmente porque o partido jamais chegou perto do poder do governo do Estado. Tivesse chegado, não teria desmentido a escrita, como comprovam as evidências de relação entre a "Caravana da Cidadania" de Lula e a quadrilha que atuava junto à secretaria da Fazenda da Prefeitura de São José dos Campos. Prioridades Por que o governo precisa de um banco? É sofisma alegar que o Banespa é o único banco que tem entre seus objetivos explícitos o de amparar a pequena e média empresa do Estado. As prioridades de um banco estão escritas na composição de seus empréstimos: 80% para o Estado e um volume inacreditável de operações podres para grandes empresas privadas. O Estado tem carência de administradores e excesso de prioridades. Dispor de um banco estadual significa acumular problemas com demandas políticas, desgastar-se com denúncias, ter dificuldades em manter a continuidade administrativa e assim por diante. Aliás, fica-se gastando tinta com argumentos redundantes. Não há necessidade de provar mais nada quando se tem à vista de todos a prova do que se pretende demonstrar: um Estado quebrado e um belo banco sob intervenção. Texto Anterior: Cavallo busca investimentos Próximo Texto: Furlan ataca "produtividade negativa" do governo FHC Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |