São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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Uma vida

WILSON BALDINI JR.
UMA INFÂNCIA POBRE NA PEQUENA CIDADE DE CULIACÁN, NO MÉXICO.

Filho de mecânico, passava as noites em um vagão de trem. Dividia o pouco espaço com os pais e uma dúzia de irmãos. Como todo garoto, o amor maior era o futebol. Chegou a participar de uma "peneira" no América e ganhou uma vaga de ponta-esquerda na equipe das categorias inferiores.
Mas seu futuro estava reservado ao boxe. Em brincadeira com amigos, despertou a atenção de um ex-campeão. Foi levado para um ginásio, onde lançou seus primeiros golpes no saco de areia.
Sua velocidade, determinação e talento natural o fizeram trocar chuteiras por luvas. Com mais de uma dezena de combates, tornou-se profissional aos 17 anos, em 80. Quatro anos foram o bastante para conquistar o primeiro título. No total, foram cinco.
Lutas memoráveis marcaram a carreira desse lutador, que, segundo os mexicanos, "é uma das três coisas mais importantes" daquele país. Juntamente com a Virgem de Guadalupe e o futebol. A ponto de carregar 132.274 pessoas para ver um combate, em 93, contra o norte-americano Greg Haugen.
Como apagar da memória as lições de pugilismo contra Mario Martínez, Edwin Rosario, José Luis Ramírez, Meldrick Taylor e Héctor "Macho" Camacho? No total, são 33 lutas em defesa de título mundial, recorde absoluto em todos os tempos.
Sua performance lhe proporcionou uma vida diferente daquela que vislumbrava nos úmidos vagões no qual dormia. Hoje, possui um "reino" formado por 14 casas, um prédio em Culiacán (onde mora com a mulher, Amalia, e os filhos Julio Jr., Omar e Christian).
Também tem um conjunto de prédios, restaurantes e uma boate na Califórnia.
Seu hobby é colecionar carros. Uma Lamborghini, duas Corvette, dois Mercedes e uma Ferrari (que comprou do amigo Mike Tyson) formam sua frota, que ainda tem um iate. Porém, ciente de sua origem, já doou US$ 5 milhões para instituições de caridade.
Mas seu sonho é alcançar cem vitórias na carreira. Está difícil.
Nosso herói está desmotivado e cansado. Não pela idade (33), mas pela rotina de quase 20 anos.
Suas últimas lutas só estão ofuscando a brilhante carreira. São vitórias sem merecimento.
Siga o exemplo de seu ídolo Roberto Durán, que continua na ativa aos 44 anos, Julio César Chavez. Perca, mas com dignidade. Ou então, entre para a história.

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