São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Esplanada do Nada

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Houve tempo em que nada se desvalorizava tão rápido quanto a moeda nacional. Vivemos nova fase. Lançado há 14 meses, o real ainda é apresentado como um portento.
No Brasil de hoje, em que R$ 1 vale US$ 0,95, a moeda foi substituída no pódio da depreciação pelos ministros de Estado. Empossado há nove meses, o ministério vale hoje tanto quanto uma cédula de R$ 3.
Os congressistas falam de reforma ministerial com um descompromisso típico das conversas de bar. Corre solta a reescalação do time do professor Cardoso.
Rezende para a vaga de Vieira. Dornelles para o lugar de Dorothea. Saem Klein e Jobim, entram Goldman e Pimenta. Serra assume o posto de Malan...
O que preocupa nas imagens de estabilidade monetária e de instabilidade ministerial é que ambas conduzem a conclusões falsas. Nem o real vale tanto quanto o governo tenta fazer crer, nem a dança de cadeiras melhoraria o ministério.
O que sustenta o real é a fantasia da sobrevalorização do câmbio. E o que reduz a cotação dos ministros é a combinação da inação do governo com a gula imoral de nossos pornopartidos por cargos.
O câmbio fictício e os juros siderais decorrem, na verdade, da inoperância dos ministérios e do Congresso. Um quadro que leva Gustavo Loyola a comparar-se a um zagueiro, aquele personagem do futebol que, para evitar o gol do adversário, não hesita em lançar mão do jogo bruto.
Em jantar com um amigo, anteontem, Loyola disse que o Banco Central mantém câmbio e juros no estágio atual porque não há alternativa. Qualquer passo em falso, argumenta, pode reanimar a inflação.
De volta à pátria amada, o professor Cardoso bem poderia tentar aliviar o trabalho da defesa, reorientando o ataque de seu time. Para começar, não faria mal se providenciasse uma política industrial e um plano para a área agrícola.
Também ajudaria se, em entendimento com o Congresso, acelerasse o ritmo das reformas que permitirão o ajuste do câmbio e dos juros. Por ora, há mais conversa fiada do que trabalho em Brasília.

Texto Anterior: Era bom, ficou melhor
Próximo Texto: O vôo do besouro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.