São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Sucesso depende da 'inteligência emocional'

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Novas pesquisas produzidas nos Estados Unidos desafiam a tradicional crença de que o sucesso profissional depende, essencialmente, do quociente de inteligência, mais conhecido como QI.
A moda, agora, é a "inteligência emocional", que, ao contrário do QI, pode ser aprendida nas escolas ou em casa.
No ano passado, os EUA iniciaram um efervescente debate que se alastrou pelo mundo, provocado pelo livro chamado "A Curva do Sino". Supostamente baseado em dados científicos, o estudo diz que os negros são menos inteligentes.
Desta vez, está em questão a importância do próprio raciocínio lógico e matemático, valorizado ao extremo numa sociedade competitiva.
Vale agora a habilidade, por exemplo, de resolver em segundos intrincadas fórmulas da física ou química. Ou alinhavar idéias, expondo-as com clareza e rapidez.
O laboratório Bell, nos EUA, centro de estudos de alta tecnologia, fez uma pesquisa entre seus engenheiros eletrônicos.
Constatou que os mais produtivos não eram os de QI mais avantajado, nem mesmo os de currículo mais brilhante, mas os que exibiram maior capacidade de relacionamento e administração de conflitos, capazes de enfrentar situações novas e de crise.
Até agora não se sabe bem como medir a "inteligência emocional". Os testes pretendem medir a capacidade de conter impulsos -excesso de ansiedade significa carência de inteligência emocional, segundo pesquisadores.
"Basicamente, é uma forma diferente de ser esperto", define Daniel Goleman, ex-professor de Harvard, autor do livro "Inteligência Emocional", lançado nesta semana nos EUA.
É, em suma, a forma como se lida com as emoções, assegurando estabilidade e equilíbrio emocionais, capacidade de resolver conflitos, de atrair simpatias, não se deixar afundar em depressões, ansiedades ou ódios. É o tipo mais habilitado a prosperar.
Essas idéias começam a sair do papel e ir para a prática. O Centro de Estudos da Criança da Universidade de Yale está promovendo cursos para aumentar a habilidade emocional de crianças. Algumas escolas ensinam inteligência emocional como matemática ou inglês.
Uma pesquisa realizada na Universidade de Berkeley (EUA) pelo psicólogo Jack Block traçou o perfil do indivíduo de QI alto.
Inteligência, ambição e busca de produtividade são frequentemente acompanhadas por inibição, dificuldade de expressão, tédio, inquietação, insatisfação sexual.
As pessoas com alta inteligência emocional demonstram maior senso de responsabilidade, dedicação a causas e pessoas, simpatia e determinação.
Uma criança muito inteligente, mas extremamente ansiosa ou angustiada, tem dificuldade de aprendizado. "De pouco vale a inteligência quando a pessoa não consegue se automotivar", afirma Goleman. O ideal, segundo ele, é a combinação das duas inteligências. Até porque alguém com QI baixo terá óbvias limitações.
Nada mais exemplar desse tipo de "burrice" que os integrantes de gangues, que, emocionalmente desequilibrados, só conseguem resolver conflitos pela violência.
A experiência do Projeto Axé com crianças de rua em Salvador é baseada, em parte, no princípio da inteligência emocional -as crianças iniciam seu aprendizado de português ou matemática quando ganham alguma estabilidade interior e lidam com a violência.
"O burro emocional" pode até ter um QI gigantesco, mas, por ser descontrolado ou até violento, provoca discórdias, desestabiliza equipes e acaba por prejudicar a produtividade de uma empresa.
"A forma como lidamos com nossas emoções determina mais nosso futuro do que propriamente o QI", afirma Goleman.
O próprio Goleman constatou que, entre seus colegas de Harvard, os mais simpáticos e habilidosos atingiram posições mais altas na carreira. E superaram de longe os reconhecidamente mais inteligentes.

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