São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ator conta que governo 'vigiou' gravação de vídeo

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator paulistano Emílio de Mello não imaginava que teria tanto trabalho ao ser escolhido, entre 30 candidatos, como o protagonista da campanha anti-Aids do Ministério da Saúde.
"O ministério vetou três dos quatro filmes da primeira versão. Acharam que estava irreverente demais. Discordo", diz ele.
Para acompanhar de perto a regravação dos três filmes, quando Mello ainda chamava o seu pênis de Bráulio, o governo enviou uma representante.
"Num filme, eu olhava a foto de uma morenaça e exclamava: 'Minha Nossa Senhora!' A mulher do ministério vetou. Disse que poderia incomodar a Igreja Católica", revela Mello.
Apesar de chateado com os rumos que a campanha tomou -ainda por cima teve que regravar o áudio dos filmes, na última quarta-feira, para eliminar as menções ao nome Bráulio-, Mello reconhece a importância do trabalho que fez.
"Fiz por obrigação social. O cachê era irrisório, mas nem entrei no mérito. Me sinto fazendo um grande bem ao povo brasileiro", diz o ator.
Seguro de si, Mello não teme ficar com seu rosto associado à campanha anti-Aids. "Momentaneamente, isso pode ocorrer."
Mello está hoje em cartaz, no Rio, na peça "Pérola", de Mauro Rasi. É o terceiro texto do dramaturgo que interpreta (fez também "A Estrela do Lar" e "Viagem a Forli").
Nos três textos atuou como alter-ego de Rasi. Em "Pérola", o personagem, que antes se chamava Juliano, se chama Emílio, em sua homenagem. "Ele deu esse nome porque eu não ia fazer, mas o ator escolhido teve problemas e eu acabei fazendo."
Em seu currículo, Mello conta trabalhos com o diretor Moacyr Góes, numa montagem de "Antígona", e com o cineasta Cacá Diegues, num episódio do filme "Veja Esta Canção".
Casado há dois anos com uma bailarina, Mello, 30, não usa camisinha, mas diz que usava quando era solteiro.
"Já perdi uns dez amigos por causa da Aids. Com 26 anos, já estava convivendo com o medo da morte, um medo que meu pai só teve depois dos 50."
(MSy)

Texto Anterior: Bráulio tem 296 apelidos em dicionário
Próximo Texto: Herói de gibi incentiva preso a usar camisinha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.