São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995 |
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Um poema de Bishop a Bandeira
NELSON ASCHER
O poema vem acompanhado de uma excelente tradução em prosa de Léa Viveiros de Castro, uma tradução que, para todos os efeitos, pode ser considerada um poema em verso-livre e cujas soluções frequentemente coincidem com (ou precedem) as minhas. Num caso específico, tive que me esforçar para não segui-la. Bishop refere-se a conversas "gone to the pot", ou seja, conforme a expressão idiomática, estragadas, deterioradas (isto é, que "foram para o vinagre"), mas também colocadas num pote ou receptáculo e, portanto, transformadas em algo guardado, comestível talvez, o que, no desenvolvimento sutil do poema, antecipa o tema da geléia e identifica esta última com o discurso, ou seja, com o próprio poema. A solução de Léa, embora fugindo da literalidade, é de uma concisão e elegância notáveis: "conversas em conserva". Minha própria solução foi escrever "conversas que melaram", traindo até certo ponto, com esta gíria, o tom apenas informal do original. De resto, simplifiquei o esquema rítmico, mantendo somente um ABCB constante e acrescentei duas sílabas ao metro, algo que tem precedentes em nossa língua, por exemplo, no "Hamlet" de Péricles Eugênio da Silva Ramos e nas odes de Keats de Augusto de Campos, onde ambos traduzem pentâmetros jâmbicos em alexandrinos. Texto Anterior: UMA CARTA DE BISHOP A LOTA Próximo Texto: PARA MANUEL BANDEIRA, COM UM PRESENTE Índice |
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