São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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Caso Hargreaves atrapalha ação do Sebrae

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ligação entre o ex-presidente dos Correios, Henrique Hargreaves, e o Sebrae jogou por terra um trabalho de marketing e de lobby político de nove meses que vem sendo feito pela entidade.
O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) quer aprovar, no Congresso, cinco emendas constitucionais com direitos especiais ao setor.
Também pretende conseguir a aprovação do novo Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
As alterações são polêmicas -desobrigam o setor de pagar pisos salariais e o desvinculam dos acordos coletivos de trabalho.
Por isso, o trabalho de persuasão foi intenso. De um lado, o Sebrae elaborou o programa "Jornada" -que até setembro já realizou pelo país 67 encontros com empresários.
O Sebrae iniciou também um lobby junto aos parlamentares. Toda semana, bancadas dos Estado eram convidadas para visitas.
Na maioria dos casos, eram recepcionados pelo diretor-presidente da entidade, Mauro Durante, e pelo presidente do Conselho Deliberativo, Guilherme Afif, e por Hargreaves -bancadas de 18 Estados participaram do programa.
As estratégias não foram abandonadas após 12 de setembro -quando foi divulgado que Hargreaves ganhava R$ 23,6 mil mensais pela consultoria ao Sebrae. Mas o efeito não é mais o mesmo.
Hargreaves foi ministro-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco. Durante ocupou a Secretaria Geral da Presidência. Sob reserva, superintendentes estaduais do Sebrae consideram que a "dobradinha" foi o pior erro já cometido pela instituição.
O caso também deixou sequelas no Congresso. Líderes partidários avaliam que o Sebrae terá dificuldades em emplacar suas propostas, pois os parlamentares temem ligar sua imagem a uma entidade que está em franca exposição na mídia.
Para eles, é uma faca de dois gumes ter Afif no comando do conselho -um político que disputou a Presidência em 1989.
Um adversário notório é o líder do PL na Câmara, deputado Valdemar Costa Neto (SP).
Não por acaso, Costa Neto é o autor do projeto em tramitação no Congresso que propõe que os recursos do Sebrae sejam transferidos para a saúde. A instituição recebe entre 0,3% e 0,6% do valor da folha de pagamento das empresas -somente neste ano, o valor já atingiu R$ 326,4 milhões.
No meio do furacão político, os técnicos do Sebrae tentam reverter o desgaste apresentando números da entidade. A instituição atendeu 941 mil empresas de janeiro a junho deste ano -311 mil, por exemplo, queriam informações sobre a legalização de seus negócios.

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