São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995![]() |
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Terra desapropriada vira um grande pasto Assentados vendem suas glebas LUIZ MALAVOLTA
Trata-se do projeto de reforma agrária mais antigo do Estado. A fazenda tem 9.000 hectares -o equivalente a 50 parques do Ibirapuera. A maioria das 305 famílias de assentados está abandonando as lavouras de arroz, feijão, milho e algodão e optando pela criação de gado. O projeto original do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) previa o cultivo de alimentos. A pecuária sempre foi considerada pelo instituto uma atividade concentradora de riquezas e incompatível com um programa de reforma agrária. A reforma agrária na fazenda Andradina, que pertencia ao empresário J.J. Abdalla, foi feita por decreto do então presidente João Baptista Figueiredo. A desapropriação foi autorizada pelo decreto 84.877, de 8 de julho de 1980, colocando fim a 30 anos de disputas pela posse das terras com posseiros. O delegado agrícola de Andradina, José Pistori Buzachero, 41, disse que a opção pela pecuária é o único jeito hoje de manter as famílias no local. Segundo ele, 70% dos 9.000 hectares da fazenda Primavera são hoje pastagens para gado. O Sindicato Rural de Andradina confirma a informação. Segundo um levantamento, existiriam na área mais de 2.000 cabeças de gado. O presidente do sindicato, Fernando Demário dos Santos, 61, disse que não vê contradição entre reforma agrária e pecuária. "Essa conversa de técnicos do Incra de que pecuária concentra riquezas é coisa de teóricos da esquerda. Na nossa região, o solo serve apenas para pastagens ou culturas perenes, como cítricos, que evitam degradação", afirmou. Santos atribui os problemas no projeto de reforma agrária em Andradina à falta de uma política agrícola e ao abandono da área pelos técnicos do Incra. Ele disse que o sindicato já constatou uma fuga dos antigos assentados. Segundo Santos, 60% dos assentados em 1980 já passaram suas terras para terceiros. Essa informação é confirmada pelo prefeito da cidade, Orensy Rodrigues da Silva (PTB), 62, antigo fazendeiro e pecuarista. Pedro Nélson Faccio, 42, por exemplo, comprou, em 1992, 8,87 hectares do assentado Raimundo Moreira. Faccio diz que tentou plantar arroz e milho, mas o resultado foi ruim. Plantou pastagem e hoje tem dez cabeças de gado. "Preciso trabalhar na cidade, com transporte de gado, para sustentar a família, porque a renda aqui não basta", disse. A Delegacia Agrícola de Andradina diz que a média de produtividade na área é de 80 a 100 sacas de milho por alqueire e de 150 a 180 arrobas de algodão por alqueire. A média do Estado é de 130 a 150 sacas de milho e de 250 a 300 arrobas de algodão. Texto Anterior: Emenda tributária beneficia latifúndios Próximo Texto: Ex-bóia-fria vira exemplo Índice |
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