São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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Ex-inimigas

CIDA SANTOS

Na América do Sul do vôlei não há surpresas à vista. Mesmo sabendo que no mundo da bola certeza só existe quando o jogo acaba, dá para afirmar: o campeonato continental, que começa na quinta-feira, já tem um campeão.
O Brasil não tem mais adversário nestas terras sul-americanas.
A seleção peruana, rival histórica das brasileiras, hoje é apenas lembrança.
Nos últimos dois anos, o tempo parece ter corrido em sentido inverso para Brasil e Peru.
Depois de perder o Sul-Americano em 93, o time brasileiro entrou em crise, trocou de técnico e mudou a sua história. Percebeu que ganhar era possível. Há duas temporadas, tem colecionado medalhas de ouro e prata.
Já a seleção peruana parece ter dado o último suspiro há dois anos, quando venceu o Brasil no Sul-Americano. O Peru, um país que já respirou vôlei e foi vice-campeão mundial e olímpico, mostrou do que a sua atual geração é capaz no Mundial de 94. O time ficou em 14º lugar, na frente de Quênia e Romênia.
Você que sofreu nos anos 70 e 80 com as sucessivas derrotas brasileiras para o Peru, deve lembrar daquela equipe quase imbatível que era comandada por um sul-coreano: Man Bo Park. O time na quadra mostrava uma mistura perfeita da disciplina asiática com a criatividade sul-americana.
Naquele período, o fantasma para as brasileiras tinha um nome: Cecília Tait, uma canhota que jogava na saída de rede e era um tormento para os bloqueios adversários. Pouco depois, apareceu uma gigante no time peruano: Gabriela Perez, 1,94 m, uma verdadeira muralha na rede.
Nos Sul-americanos, as peruanas eram as inimigas número um, conquistavam sempre a única vaga do continente para a Olimpíada. Graças a elas, o Brasil participou pela primeira vez dos Jogos apenas em 80, e, mesmo assim, devido ao boicote de outros países.
Cecília Tait, Gabriela Perez, hoje é tudo passado. A única da turma que continua na seleção é a levantadora Rosa Garcia. No Mundial-94, deu sinais de que estava difícil comandar um time que nada mais tinha a ver com sua geração vencedora. Chegou a falar que não iria mais defender a seleção.
Rosa Garcia voltou atrás. Convocada, não conseguiu dizer não. A partir de quinta-feira, ela vai estar em Porto Alegre, brigando por algo impensável há poucos anos: não deixar o Peru cair para o terceiro posto na América do Sul.

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