São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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Moraes se rende à ditadura das cordas

LUÍS ANTONIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

No princípio, era o oficlide. Depois a música do populacho brasileira adotou orquestras, pois o autofone não captava todos os sons. Nos anos 30, a percussão deu as cartas. Nos 60, o combo bossa-novista. Nos 70 e 80, reinava Lincoln Olivetti, o heresiarca dos teclados. Hoje vivemos a ditadura das cordas. Não há disco de MPB que não tenha arranjos "sensíveis" com a família dos violinos.
Até o impolutamente elétrico cantor e compositor baiano Moraes Moreira se sujeita, aos 47 anos, à tirânica era Morelenbaum no seu novo CD, "Acústico".
O disco documenta a gravação do especial da MTV, em 6 de junho último, no Music Hall em São Paulo. O trabalho soa mais Morelenbaum do que se inscreve na moda acústica do pop hodierno.
Jaquinho Morelenbaum foi o violoncelista que aboliu os sintetizadores nos estúdios e picadeiros. Crítica e público se vêem obrigados a aprovar qualquer coisa que se pareça com cordas. A tendência é conservadora e lembra o que os arranjadores fizeram ao jazz nos anos 50. Até o saxofonista Charlie Parker tocou com violinos.
Moraes tem um talento que transcende o arranjo que pervade as quinze faixas do CD, feito de cordas, acordeon e trombone. Nas suas canções e frevos transbordam poesia, achados rítmicos e harmônicos. Produz, como ele se autodefine na faixa de abertura, "Meninos do Brasil", documentos "da raça pela graça da mistura".
Bela é a versão de "Preta Pretinha", com cordas. Mas soam desajeitadas "Forró do Zé Tatu" e "Pombo Correio". Moraes poderia ter optado por flauta, violão e cavaquinho. Cordas: ruim com elas, pior sem elas. Há sempre um karaokê a nos espreitar de algum disco de Emílio Santiago.
(Luís Antônio Giron)

Disco: Acústico
intérprete: Moraes Moreira
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

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