São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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Mercedes demite 1.600 e enfrenta greve

DA FOLHA ABCD; DA FOLHA SUDESTE; DA REPORTAGEM LOCAL

A Mercedes-Benz anunciou ontem a demissão de 1.150 funcionários da fábrica de São Bernardo, no ABCD paulista. Na unidade de Campinas (SP), a montadora demitiu 450 metalúrgicos.
Os trabalhadores das duas unidades entraram em greve ontem mesmo, contra as demissões.
Em São Bernardo, a paralisação dos 12,5 mil funcionários teve início às 9h, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD. A unidade produz 163 caminhões e chassis de ônibus por dia.
Segundo Heiguiberto Guiba Navarro, presidente do sindicato, a paralisação deve continuar até que as demissões sejam suspensas.
"Fomos pegos de surpresa. Não houve acordo, apenas fomos informados do corte." A Mercedes não se pronunciou sobre a greve.
A empresa alegou, em comunicado distribuído à imprensa, que o enxugamento é "inevitável" para manter a competitividade.
O comunicado não menciona questões ligadas à queda nas vendas ou elevação dos estoques para justificar o corte. Não há definição de benefícios para os demitidos.
As demissões na montadora foram comunicadas 12 dias após o anúncio, na Alemanha, pelo presidente mundial da Mercedes, Helmut Werner, da instalação de uma nova fábrica no Brasil, com investimento de US$ 400 milhões.
A montadora não informou se o investimento será mantido.
Segundo Guiba, a direção da Mercedes informou que os investimentos para a construção da nova fábrica no Brasil serão mantidos.
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, disse que não entende como a Mercedez anuncia que vai abrir nova fábrica e sai demitindo.
Para ele, que trabalha na Mercedes, as demissões são um "retrocesso, um recrudescimento na forma de agir da empresa".
Segundo Vicentinho, essa é a primeira vez, desde 81, que a Mercedes demite sem negociar.
Para Vicentinho, cada demissão na indústria automotiva pode significar a perda de 29 postos indiretos de trabalho.
As demissões, segundo ele, têm razões estruturais mas são também consequência "da crise que vivemos hoje, pois com salários baixos e juros altos ninguém compra".
Em Campinas, os funcionários do setor de produção -o mais atingido pelas demissões- começaram greve por volta das 11h.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e região, a produção da fábrica está totalmente paralisada.
Severino da Silva, diretor do sindicato e funcionário da fábrica, disse que a greve impediu que a empresa realizasse todas as demissões anunciadas. O sindicato e a empresa não confirmaram quantas demissões foram efetivadas ontem.
Segundo Genivaldo dos Santos, 35, diretor do sindicato e empregado da Mercedes, a empresa alegou dois motivos para demitir: renegociação de prazos de pagamento com compradores e uma expectativa de redução de 100% dos pedidos a partir de outubro.

Colaborou a Reportagem Local

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