São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lyne abandona o efeito fácil

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande armadilha de "Alucinações do Passado" (Globo, 22h30) vem do pouco que se espera de seu diretor.
O inglês Adrian Lyne é mais conhecido por oscilar entre o pornô publicitário ("9 e 1/2 Semanas de Amor") e a obscenidade pura e simples ("Atração Fatal") do que por qualquer tipo de talento maior.
Mas "Alucinações" é em tudo uma surpresa. Usando os efeitos a favor do filme, Lyne mostra a história de um ex-combatente que perde completamente a noção da realidade.
A doença de seu personagem (Tim Robbins) é não conseguir mais a distinção entre o que é verdade ou imaginação, lembrança ou sonho, pesadelo ou memória.
Sua trajetória é a de um homem que é tomado pela idéia de loucura e tem, por motivação, ao menos em um primeiro momento, tentar descobrir o que acontece em sua vida.
Assim, o tema principal de Lyne -a insanidade- passa a se dividir em tantos outros: o Vietnã, a subversão, a violência e, em seu final, o militarismo.
Se não é o grande filme desta década, ao menos é sem dúvida, ao menos até o momento, a grande obra de Lyne.
Pela primeira vez em seus filmes ele rompe com o apelo banal e passa, por meio da história de um homem que supostamente enlouquece, a perguntar o que acontece no mundo.
Se não fornece a resposta, ao menos foi capaz de fazer a pergunta. O que, para um diretor como ele, já é um grande avanço.

Texto Anterior: Voltei! Para dar um pau no Bráulio!
Próximo Texto: Steve Martin explica por que ama LA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.