São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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Diane Keaton brilha como diretora

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

No Brasil, "Unstrung Heroes" pode se chamar "Pai Nervoso, Tios Neuróticos", homenagem ao inacreditável título que a obra-prima de Woody Allen, "Annie Hall" (1977) ganhou (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa).
A estréia como diretora da atriz que representou Annie Hall, Diane Keaton, lembra muito o trabalho de seu ex-marido Allen: é uma comédia sobre uma improvável família judia, dirigida com inteligência e delicadeza.
Keaton, 49, reconhece a influência de Allen no seu primeiro trabalho de ficção por trás das câmeras (antes, ela fez documentários para a TV).
Alguns críticos estão malhando o filme por acharem que ela imita Allen imitando Bergman. Mas a maioria dos observadores tem sido simpática à talentosa Keaton.
"Unstrung Heroes" (Heróis Desajustados, em tradução livre) estreou sexta-feira e fechou seu primeiro fim-de-semana com surpreendente bilheteria de US$ 2,6 milhões, a sexta maior no período.
Os heróis do título são dois tios muito birutas de um garoto de 12 anos, Steven Lidz (Nathan Watt), que enfrenta a lenta agonia da peça central de sua vida, a mãe (Andie MacDowell), vítima de câncer.
O garoto se dá mal com o pai, um cientista excêntrico (John Turturro), quase tão maluco quanto os irmãos. Tio Arthur (Maury Chakyn) é um colecionador obsessivo de bolas de borracha, jornais velhos, peças de bolo de casamento. Ele vive com tio Danny (Michael Richards), um paranóico.
Confrontado com a notícia da morte iminente da mãe, Steven foge para a casa dos tios, que mais parece um manicômio, e ali é provido de carinho, brincadeiras e fé religiosa.
A mensagem do filme -duvidosa- é um elogio à loucura. Independente de se concordar ou não com a moral da história, a fita funciona como cinema.
As imagens são bonitas, sensíveis mas Keaton não deixa estilismos estéticos interferirem no enredo, que flui bem embora muitas vezes se tenha a impressão de que o filme está prestes a desmoronar, o que nunca ocorre.
Os diálogos são inteligentes e comoventes na medida certa. A música (de Thomas Newman) é, junto com o desempenho dos atores, o que o filme tem de melhor.

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