São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Inteligência faz mal ao casamento

GILBERTO DIMENSTEIN

Excesso de QI faz mal ao casamento e à saúde. Aviso ao leitor: não estou brincando. Ou melhor, os psicólogos aqui não estão brincando. Talvez essa "doença" (QI excessivamente alto) explique, na visão deles, por que exuberantes gênios como Einstein, Chaplin ou Picasso, entre tantos outros, transformaram suas vidas domésticas num pandemônio.
Numa nova moda da psicologia americana, os supostos efeitos perversos da abundância de QI estão ganhando ares de ciência por meio de pesquisas nas mais renomadas universidades. O grande defensor da tese, Daniel Goleman, vem de Harvard e seu guru é de Yale, o que seria semelhante a falar em USP e Unicamp.
Até agora, as duas letrinhas que indicam quociente de inteligência tinham uma aura milagrosa, capaz de abrir portas e de assegurar o sucesso. Pelo jeito, estão prestes a virar fardo semelhante, quem sabe, ao diabetes.
Os seres com QI muito elevado tenderiam a exibir uma "baixa inteligência emocional": a capacidade de administrar conflitos, manter-se equilibrado, não sair chutando cachorros, gatos ou armários, não entrar em depressão ou ser tomado por ansiedades crônicas.
Pesquisadores na Califórnia informam que inteligência em "demasia está associada a ansiedade, depressão, irritabilidade, baixa vida afetiva, tédio, insatisfação sexual", dificuldade de compartilhar e de perceber os próprios sentimentos. Portanto, menos condições para enfrentar os inevitáveis e rotineiros conflitos do casamento.
Más notícias até na saúde. Esse tipo de comportamento provocaria estresse e, logo, efeitos na saúde, com prejuízos ainda maiores do que os provocados pelo fumo.
Do jeito que a sociedade americana é obsessiva diante das modas, daqui a pouco corre-se o risco de pessoas de QI alto serem discriminadas com a mesma fúria destinada aos fumantes.
Rejeitados pelas boas moças da sociedade, os gênios, até então idolatrados, vão sentar (e olhe lá) num cantinho da sala ou do restaurante, separados em nome da saúde pública e da estabilidade das instituições cristãs.
PS - Comentário de um psicólogo que, descontente com o modismo da tese da "inteligência emocional", perguntou em tom de ironia: "Será que a inteligência faz mal ao casamento ou o casamento faz mal à inteligência?
Por falar em obsessão, acaba de ser lançado aqui um livro intitulado "A Good Life (uma boa vida), que todos os jornalistas brasileiros deveriam ler. São as memórias de Benjamin Bradlee, responsável pela transformação do "The Washington Post" num dos mais importantes jornais do mundo. Durante sua gestão, o jornal derrubou Richard Nixon com o caso Watergate e se tornou exemplo mundial de investigação.
A obsessão americana, no caso, é o detalhe que, até agora, mais atrai atenção do livro: a vida sexual de seu particular amigo John Kennedy, um notório mulherengo, no estilo Juscelino Kubitschek. Conta a lenda que seguranças levavam mulheres diariamente para a Casa Branca por caminhos sigilosos. Diz ainda a lenda que, caso Kennedy não praticasse sexo, teria dores de cabeça "terríveis".
Um dia, Jacqueline teria entregue a ele uma calcinha preta que encontrou na sua gaveta e, educadamente, mandou devolver à verdadeira dona.
Na opinião de Bradlee, o tão venerado Kennedy, caso concorresse hoje, não se elegeria jamais presidente com tamanho prontuário sexual.
A Folha publicou artigo do economista Gustavo Franco, um dos pais do Plano Real, intitulado "As viúvas da inflação". O artigo toca, indiretamente, a preocupação dos analistas americanos que investigam o Brasil.
Há uma fatia da elite que prosperava com os preços altos combinados com reservas de mercado e com fronteiras fechadas. Agora, tem de investir mais, aumentar a produtividade. Muitos, é óbvio, estão perdendo. É uma considerável pressão política, num país que se aproxima da eleição e tem mais de cem candidatos parlamentares à procura de financiamento.
PS - Uma das vantagens de Nova York é a abundância de ótimas piadas sobre judeus. A última que ouvi foi sobre o bar-mitzvá, a cerimônia que todo menino judeu realiza na sinagoga quando completa 13 anos.
Uma mulher pede ao rabino que faça o bar-mitzvá de seu cachorro. "A senhora está maluca, isso é uma ofensa. Saia já daqui", reage o rabino. Humilde, ela insiste, em tom de súplica: "Meu senhor, quando meu cachorrinho nasceu, um rabino fez a circuncisão e prometeu que, assim, ele poderia fazer bar-mitzvá. Foi um dia tão feliz que eu até doei US$ 30 mil à sinagoga". O rabino mudou, subitamente, de feição: "Ah, então é diferente. Eu não sabia que seu cachorrinho era judeu".

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