São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Começa em Palermo o julgamento de Andreotti

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Começou ontem em Palermo (sul da Itália) o julgamento do ex-primeiro-ministro da Itália Giulio Andreotti. Ele é acusado de ligação com a Máfia, a organização criminosa da Sicília.
Os promotores públicos acusam Andreotti de se encontrar com líderes fugitivos da Máfia, de tentar mudar decisões judiciais contra mafiosos e de aprovar implicitamente assassinatos.
Em troca, a Máfia traria votos na Sicília para o partido de Andreotti, a extinta Democracia Cristã. No final da sessão de ontem, o julgamento foi interrompido até o dia 6 de outubro, como previsto.
A mídia italiana está chamando o caso de "o julgamento do século". Ele foi aberto em um tribunal da prisão de Ucciardone, onde alguns dos maiores líderes da Máfia foram julgados entre 1986 e 1987.
Andreotti começou na política italiana em 1945, como deputado suplente do Parlamento do país durante a elaboração da Constituição do pós-guerra.
Foi líder da Democracia Cristã de 1948 a 1972 e primeiro-ministro por sete vezes, a última delas entre 1989 e 1992.
Andreotti nega as acusações de ter servido de padrinho político para a Máfia. "Sinto-me humilhado. Estou sendo julgado por algo que não fiz", disse o ex-premiê, durante uma pausa no julgamento.
Andreotti ficou estalando os dedos e fez anotações no tribunal. Acredita-se que o julgamento deva durar mais de dois anos.
Foi deixado pendente o pedido para que o julgamento fosse transferido para Roma (capital).
A defesa pediu que Andreotti fosse julgado pelo Tribunal dos Ministros, responsável por acusações contra membros e ex-membros do governo italiano.
Em sua primeira decisão, o juiz Francesco Ingargiola proibiu que a TV transmita o julgamento ao vivo. Ele permitiu apenas que emissoras de rádio transmitam os procedimentos.
Os promotores disseram que a TV poderia influenciar as testemunhas. Gravações do processo poderão ser veiculadas na TV estatal italiana RAI 3. A defesa era favorável à transmissão ao vivo.
As principais acusações contra Andreotti vêm de ex-membros da Máfia. A defesa argumenta que os ex-mafiosos mentem para conseguir penas mais leves.
Andreotti diz que é vítima de um complô da Máfia, que estaria buscando vingança contra ele por causa de operações contra a organização em seu governo.
Os advogados de Andreotti pretendem convocar figuras internacionais como testemunhas, entre elas o ex-secretário-geral da ONU Javier Pérez de Cuellar.
Pérez de Cuellar disse que só vai entregar declaração por escrito dizendo que Andreotti ajudou os programas antidrogas da ONU.
Estão arroladas no processo mais de 500 testemunhas.

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