São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 1995
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O novo reformista

JANIO DE FREITAS

Em palestra para jornalistas da Folha no dia 14 de outubro de 94, o novo presidente do Incra, Francisco Graziano, expôs a opinião de que reforma agrária é assunto superado, coisa da década de 60.
Restrita a um seminário interno, a palestra não chegou ao conhecimento dos leitores do jornal. Melhor para todos eles, que não se espantaram tanto com o "especialista" escolhido para acelerar a reforma agrária.
Fique, pelo menos, uma pitadinha do pensamento brilhante de Graziano: "Não entendo o movimento dos sem-terra, porque então nas cidades deveria haver o movimento dos sem-indústria, mas não há".
Não é preciso ir além de uma pitadinha, é?
Dinheiro invisível
As narrativas, publicadas ou privadas, da reunião do presidente com os governadores não incluem qualquer menção desses ao peso, nos respectivos orçamentos, da folha de pessoal e, por decorrência, da sua disposição de demitir funcionários em proporção financeiramente significativa. Mas todos deixaram claros seus estrangulamentos orçamentários pelo peso das dívidas estaduais.
Daí não se deduzirá que os governadores todos considerem satisfatórias suas folhas de pessoal. Há mesmo, entre eles, os que apóiem com entusiasmo o fim da estabilidade desfrutada pelos servidores públicos. E, em graus diferentes, todos têm deixado subentendida sua adesão à idéia bresseriana de demissões a granel.
Não consta, porém, que um só dos governadores tenha providenciado estudos sobre um ponto fundamental nas demissões: o custo. É inevitável que os demitidos terão direitos financeiros a receber dos Estados. E os cofres estaduais, que os governadores dizem arrasados, terão condições de enfrentar tal custo? Como? Nenhum governador fez, até agora, nem sequer referência superficial a esse aspecto das demissões.
Nisso, aliás, estão acompanhados pelo governo federal. Aí, porém, é provável que a voracidade demissionária já tenha feito as suas contas. No Orçamento para 96, no entanto, o governo não as menciona. O que leva a uma probabilidade interessante: o uso do Fundo Social de Emergência, que o governo quer a todo custo prorrogado, para realizar demissões, já que esse dinheiro não é vinculado a fins declarados. E, como já se viu, a palavra social tem, para o governo, infinitos sentidos.
Sem conta
Os números de assentamentos de sem-terra mencionados no Planalto variam segundo os redatores das falas presidenciais: 12 mil, 17 mil, 15 mil. Ou com as disposições aritméticas do presidente.
Os números vão ficando nos jornais, mas não coincidem com os do Movimento dos sem-Terra, que há poucas semanas referia-se ao total de 4 mil; nem sequer com os do próprio governo, que registrava até ontem, no Incra, 20 mil assentamentos, com a expectativa de chegar a 22 mil amanhã.

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