São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Presidente pede trégua aos sem-terra

SILVANA DE FREITAS; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu uma "trégua" aos sem-terra ao dar posse ontem ao novo presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano.
Segundo Fernando Henrique, a radicalização não ajuda, apenas atrapalha os mais pobres. Para ele, trégua não quer dizer que as pessoas deixem de exigir, mas passem a acreditar que o governo não negocia de má-fé.
Presente à solenidade, no Palácio do Planalto, o presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura), Francisco Urbano, disse que não seria "maluco ou irresponsável" de negar a possibilidade de novas ocupações de terras.
Para o vice-presidente da entidade, Avelino Ganzer, essa iniciativa dependerá da rapidez do governo em realizar assentamentos.
Convidado para a posse às 16h no Palácio do Planalto, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não mandou nenhum representante. FHC disse ter recebido uma carta "muito simpática" da entidade.
O coordenador nacional do MST, Gilberto Portes, afirmou que haverá trégua se o governo resolver logo o problema das 17 mil famílias acampadas. "Se o governo assentar essas famílias, não haverá novas ocupações", afirmou.
"Aproveito a oportunidade -tenho certeza de que o ministro José Eduardo (Agricultura) compartilha- para fazer um apelo: é uma espécie de trégua", disse FHC em discurso na cerimônia.
O presidente afirmou apelar também a "um espírito de harmonia" e se referiu ao MST, Contag e parlamentares ligados à área quando disse esperar a "mão unida" das lideranças do setor rural.
FHC condenou a perspectiva de radicalização dos sem-terra. "Não sei se feliz ou infelizmente, nós que já estamos na casa dos 60 anos nos recordamos de vários momentos da história. Os que não se recordam, lêem. A radicalização não ajuda a ninguém".
A declaração foi uma referência à atuação do movimento sindical dos trabalhadores rurais da década de 60, apontada como um dos motivos que levaram ao movimento militar que culminou na derrubada do presidente João Goulart (1964).
FHC também questionou lideranças do MST. "As bravatas, meu Deus, para que servem? Talvez à glória momentânea de um líder, que muitas vezes não é líder de nada. É líder só no momento em que sai na fotografia".
FHC e Francisco Graziano reafirmaram a meta do governo de assentar 280 mil famílias até o final da gestão do presidente, em 1998.
Graziano condenou o radicalismo: "Não cederemos aos gritos das minorias extremadas". Seu lema será "dialogar, reformar, assentar", contra o do MST: "ocupar, resistir, produzir".
Participaram da cerimônia, entre outros, parlamentares do PT, da Frente Parlamentar da Agricultura (bancada ruralista), técnicos do governo e diretores da Contag.
O ministro da Agricultura, José Eduardo Andrade Vieira, não discursou. Disse que o eventual diálogo direto entre Graziano e FHC, que são amigos, "só vai facilitar".
A expectativa do ministro pode ajudar a esclarecer os números sobre os assentamentos. Após a posse, ele negou a doação de terras a 16 mil famílias acampadas em beira de estradas até o fim do ano, meta já anunciada por FHC.
"O presidente pode ter se equivocado. Isso (a meta) não é lógico, é inviável", disse. Segundo ele, o governo vai assentar em 1994 apenas 11 mil. As outras 5.000 famílias em margens de estradas só receberão a terra em junho de 1996.

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