São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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O passado

WILSON BALDINI JR.

Permanece forte na lembrança do judeu alemão Henry Lewin o início da década de 40.
Começo da Segunda Guerra Mundial e a perseguição feita pelos aficionados do nazismo era sufocante na cidade de Berlim.
Lewin, seu pai e irmãos estavam condenados a engrossar a enorme e terrível lista de mortos.
Mas uma ajuda inesperada salvou suas vidas. O maior esportista alemão de todos os tempos usou do seu prestígio com Adolf Hitler, com quem constantemente jantava, apesar de discordar do regime implantado na época em seu país. E atendeu a um pedido de socorro do pai de Henry Lewin.
Em seu carro de luxo -cujo tipo igual só mais duas unidades existiam em toda a Berlim-, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados de 1930-31 levou toda a família perseguida para sua casa. Lá, ficaram por três dias, tempo suficiente para deixarem o país.
Hoje, Lewin vive em Las Vegas, onde é dono do luxuoso Hotel Maxim. Mas o "sobrevivente" seria surpreendido pelo ex-campeão, quatro décadas mais tarde.
Em 81, morreu Joe Louis, que, por duas vezes, enfrentou o eterno ídolo alemão. Na primeira, sem valer título, o alemão venceu por nocaute no 12º round, em 36. Dois anos mais tarde, campeão, Louis venceu no primeiro assalto.
No dia do enterro de Louis, Lewin recebeu um telefone de Hamburgo. O ex-campeão pediu para ele entregar à viúva de Louis um cheque, que cobriria despesas do funeral.
Ao entregar a ajuda, Lewin ficou sabendo que esse era um ato que já se repetia há mais de 15 anos. Louis passava por dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como porteiro de um prédio.
"Ora, o Max Schmeling. Ele jamais nos abandonou todos estes anos", desabafou a viúva de Louis.
Ontem, Schmeling completou 90 anos de idade. Mora sozinho em Hamburgo desde 87, quando sua mulher, Anny Ondra, com quem viveu por 54 anos, morreu.
Está recuperado de uma pneumonia e, todos os dias, faz exercícios físicos. Não esconde sua intenção de chegar aos "100 anos". Ainda tem disposição para cuidar de sua empresa, ligada à Coca-Cola, que tem 350 empregados.
Também possui uma fazenda, onde tem uma criação de vison e uma plantação de tabaco.
Não gosta de dar entrevistas e diz que seu futuro não existe. Sua vida pertence ao passado. Com certeza, um passado glorioso.

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