São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Japão vive "adeus" de Kurosawa

AMIR LABAKI

Em Tóquio
O Japão vive sem maior comoção a cerimônia do adeus de Akira Kurosawa, seu maior cineasta. Aos 85 anos, Kurosawa não pode mais se locomover.
O cineasta vive seus últimos dias em retiro no interior do país.
Seu último filme será mesmo "Madadayo", lançado há dois anos em Cannes.
As críticas de Yoshishige Yoshida ao diretor de "Os Sete Samurais" (1954) não são isoladas.
Outro sinal dos tempos: a seleção dos melhores títulos da história do cinema japonês, segundo críticos e cineastas do mundo todo, traz vários de seus filmes, mas a programação para o presente festival de Tóquio omitiu-os completamente.
Monumento
"Kurosawa é um monumento que ninguém quer hoje reverenciar", disse-me o principal analista de sua obra, Donald Richie, numa conversa informal nesta semana em Tóquio.
"Só depois que ele morrer vão idolatrá-lo como instituição nacional".
Perguntei a Richie, atualmente crítico do "The Japan Times", as razões da atual resistência japonesa a Kurosawa.
"Ela não surpreende e tampouco é nova", disse o autor de "Os Filmes de Akira Kurosawa" (Brasiliense, 1989).
"Em primeiro lugar, Kurosawa fez muito sucesso fora do Japão", diz.
Para Richie, "A xenofobia e o provincianismo japoneses não aguentam isso. Em segundo, ele nunca deu muita atenção para o jogo da mídia. Ele foi sempre exagerado. Em terceiro, sempre estourou prazos e orçamentos, quebrando outra lei nacional".
"Por fim", prossegue Richie, "o estilo de Kurosawa é quente numa era fria. Ozu está mais sintonizada com ela. Todo jovem filme japonês cita Ozu. Ele é neobarroco, enquanto Kurosawa é rococó".
Imune aos modismos, Richie lança até o fim do ano a terceira edição americana de seu clássico estudo. "Incluímos toda a sua filmografia, até seus três últimos títulos, 'Sonhos', 'Rapsódia de Agosto' e 'Madadayo', dos quais não gosto. Sentindo a resistência, Kurosawa tentou no fim falar muito diretamente aos jovens. Esse didatismo extremo atinge o ápice no fraco 'Madadayo"', conclui Richie.

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