São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Denise Stoklos estréia sua 'Des-Medéia'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

A atriz, diretora e mímica paranaense Denise Stoklos fez anteontem em Curitiba a estréia nacional de sua nova montagem teatral, "Des-Medéia", releitura da tragédia grega "Medéia", escrita por Eurípedes em 431 antes de Cristo.
Isso não significa que a "desconstrução" que Denise pretende fazer do texto clássico esteja concluída.
Como é comum em sua carreira, ela apresenta a montagem ainda em evolução, sujeita a modificações ditadas pela reação do público e por seu próprio "feeling".
Depois de Curitiba, Denise segue para São Paulo, onde cumpre temporada de 9 a 19 de outubro, no Centro Cultural São Paulo.
A peça deve ser intercalada com outra produção da atriz, também inédita na cidade: "Elogio", baseada na obra do escritor argentino Jorge Luis Borges e só mostrada antes em Porto Alegre (RS).
Quanto a "Des-Medéia", o nome não é nenhum exagero. Denise tomou o texto original -protagonizado pela mítica feiticeira que, por ciúmes do marido Jasão, mata os filhos que teve com ele- com o objetivo de negá-lo.
Sua Medéia, ao fim do espetáculo, não mata ninguém, muito menos os próprios filhos.
Ocupa-se, ao contrário, em preservá-los numa ação transformadora.
A intenção é metaforizar o Brasil.
"Precisamos transformar este país, que tem tantos talentos e não os aproveita. Precisamos resgatar nossa memória, lembrar sempre de Antunes Filho, de Gianfrancesco Guarnieri", diz.
Em sua meta de expor as contradições do Brasil, o uso contínuo do político é estratégia importante.
"Precisamos resgatar nossa memória. Numa pré-estréia de 'Des-Medéia', rasguei ao final uma foto de Roberto Campos. Precisamos lembrar quem são os enganadores, os torturadores", diz.
As referências são múltiplas e ácidas: Fernando Henrique Cardoso (alegorizado como rei de um país que "elege pelego atrás de pelego"), Roseana Sarney, PFL, Plano Real e assim por diante.
O redemoinho de referências continua em outros campos: a trilha sonora inclui desde Beatles e ópera até Elis Regina e Dire Straits; momentos de grossa comédia retomam a tradição chanchadesca brasileira; os figurinos são de Alexandre Herchcovitch.
A estréia simultânea, em São Paulo, de "Elogio" depende ainda do dia das crianças.
Explica-se: atores coadjuvantes da peça, os dois filhos adolescentes de Denise podem preferir viajar para o sítio.
Se não, pisam no palco com a mãe, os avós (pais de Denise), a cantora e atriz Cida Moreyra e o ator e assistente de direção Fábio Namatame.
"Elogio" promete, pois, mais novidade que "Des-Medéia": Denise raramente costuma dividir seus espetáculos com outros atores e/ou diretores.

Peça: Des-Medéia
De: Denise Stoklos
Quando: até domingo em Curitiba, no Teatro Bamerindus (Av. Luiz Xavier s/n, tel. 041/321-6528); de 9 a 19 de outubro no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000)
Quanto: R$ 10 (Curitiba)

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