São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Israel entrega Cisjordânia à OLP

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Iasser Arafat, assinaram ontem em Washington acordo para dar autonomia árabe às cidades da Cisjordânia.
Rabin, que comandou as tropas de Israel que ocuparam a Cisjordânia em 1967 e liderou a repressão à Intifada (insurreição palestina na região) a partir de 1987, pediu ajuda a Arafat no combate ao terror.
"Não deixe que a terra onde brotam leite e mel se transforme na terra onde brotem sangue e lágrimas. Una-se a nós para lutar contra os anjos do mal que, pelo terrorismo, tentam destruir este acordo", disse Rabin a Arafat.
Arafat não perdeu tempo para ampliar seus objetivos. Questionado se o acordo de ontem fazia avançar a tese de que se deve criar um Estado palestino independente, respondeu: "Definitivamente".
Ele também sugeriu que a cidade de Jerusalém, cuja parte oriental foi ocupada por Israel em 1967, seja a "capital da paz" dos Estados judeu e palestino. O acordo de ontem não trata nem do Estado palestino nem de Jerusalém.
Esses dois assuntos polêmicos ainda dividem não apenas palestinos e judeus, mas políticos de outros países envolvidos no processo de pacificação do Oriente Médio.
O presidente Bill Clinton, por exemplo, quando questionado se os EUA agora apóiam a criação do Estado da Palestina, preferiu responder com uma evasiva: "Nós apoiamos o processo de paz. Isso é tudo o que estamos fazendo".
Clinton, que presidiu a cerimônia, e outros líderes presentes fizeram apelos para que a Síria e Israel concluam suas negociações de quatro anos e acertem um acordo de paz.
Na Cisjordânia, houve protestos tanto de palestinos quanto de colonos judeus contra o acordo.
O pacto prevê a retirada das tropas israelenses de ocupação das áreas urbanas da região até 30 de março de 1996.
Nas áreas rurais, onde há várias comunidades de colonos judeus, soldados israelenses vão trabalhar em conjunto com policiais palestinos, os quais não vão ter o direito de prender os colonos.
O acordo também prevê a eleição de um conselho de governo palestino para a Cisjordânia, que terá funções executivas e legislativas, e o estabelecimento de um sistema judiciário e bancário palestino.
Até o final do ano que vem, o governo autônomo da Cisjordânia terá quase todos os poderes de um Estado independente, inclusive o de coletar e administrar impostos e o de emitir passaportes.
A assinatura do documento foi ameaçada por um desacordo de última hora sobre a forma da permanência das tropas de Israel em torno da cidade de Hebron, onde as relações entre palestinos e judeus são mais tensas.
A discordância provocou atraso de 20 minutos no início da solenidade e só foi resolvida depois que o presidente Clinton chamou Arafat e Rabin para uma sala reservada e os instou a solucionar a questão de imediato.
Em 1993, quando foi firmada a Declaração de Princípios, que pôs fim ao estado de guerra entre OLP e Israel, situação similar ocorreu quando os israelenses se recusaram a assinar o documento se ele mencionasse a OLP como Estado.
O acordo de ontem encontra resistências em Israel e entre os palestinos.
A principal organização palestina depois da OLP, o Hamas, opõe-se a seus termos, assim como a oposição conservadora ao governo de Rabin.
Vários países árabes, entre os quais a Líbia, o Iraque e a Síria, também não concordam com os termos do acordo e manifestaram descontentamento.
O presidente da Líbia, Muammar Gaddafi, disse que os líderes árabes que foram a Washington deveriam ter vergonha de seu papel, "ainda mais no dia em que se comemora o 25º aniversário da morte de Gamal Abdel Nasser".
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, segundo sucessor de Nasser na Presidência de seu país, assinou como testemunha o documento de ontem, assim como o rei Hussein, da Jordânia.

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