São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Bravo mundo novo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Os países estão se reunindo em blocos, na tentativa de disciplinar mercados e unificar investimentos. A Comunidade Européia já funciona em parte e só está encontrando dificuldade na questão da moeda. Afinal, criar a moeda única é como preparar terreno para a bandeira nacional única -e isso ainda vai demorar algum tempo.
Assim como será difícil ao inglês renunciar à libra e à Union Jack, o alemão vai querer ficar com seu poderoso marco e o francês, com a bandeira tricolor, que envolveu o mundo em 1789.
Daí não se acreditar numa total e completa unificação de nações. Nem mesmo à força, por meio de tratados de paz depois das guerras. Os conflitos na Bósnia e na antiga URSS aí estão, mostrando que o nacionalismo não acaba por causa de um documento assinado por generais ou políticos.
Já as empresas não têm essa preocupação, esse compromisso com um trapo de pano, com alguns acordes musicais, com um pedaço de papel impresso numa casa da moeda. Pode parecer difícil, hoje, uma união da Coca-cola com a Pepsi em nível mundial, mas tudo é possível. A Ford se uniu à Volkswagen, setorialmente, aqui no Brasil. Não deu certo, mas haverá outras tentativas.
Nos Estados Unidos, um dos maiores mercados, o das comunicações e lazer, já se concentra em dois supergrupos que, mais cedo ou mais tarde, serão um só. Os novos gigantes produzirão jornais, revistas, discos, hotéis e cachorros-quentes. Inevitável, também, a criação de um supercomplexo para a informática.
As nações serão reduzidas a paróquias, com direito a uma quermesse nos dias dedicados à antiga data nacional. O homem comum deixará de ser um nome e um cidadão. Será o consumidor, com direito a um código mais ou menos igual aos dos usuários da Internet: "hhipt/ hgy pyj/br-Ak3". Nem pai nem mãe nem sexo nem cidadania -discriminações superadas, inúteis no admirável mundo novo que está chegando.
Pensava-se que essa maravilha fosse imposta à humanidade pelo comunismo. Será o capitalismo, em sua versão neoliberal, que nos dará esse paraíso onde um hambúrguer terá o mesmo gosto de uma balada jamaicana. E vice-versa.

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