São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995![]() |
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Promissória renovada
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - Em seus primeiros dias de trabalho, a principal missão de Francisco Graziano não pode ser a de desapropriar terras. Há algo que deve ser feito antes que a assinatura do novo presidente do Incra seja rabiscada no seu primeiro decreto de assentamento de sem-terra.O sucesso de Graziano dependerá de sua capacidade de pôr fim ao canibalismo político que permeia o debate fundiário. Ou ele arranca a discussão da arena ideológica em que se encontra ou logo estará deslizando da nova cadeira. É longa e sinuosa a distância entre as palavras de um candidato e os atos de um presidente da República. No que diz respeito à reforma agrária, a ideologia apenas acrescenta curvas à trilha que separa a promessa de sua realização. Ao instalar Graziano no Incra, Fernando Henrique tenta demonstrar que ainda não rasgou o "Mãos à Obra", seu programa de governo. É como se renovasse uma promissória assinada sobre o palanque. Como estratégia de marketing, a iniciativa é muito boa. Algo precisava mesmo ser feito. Ontem, o presidente pediu trégua aos sem-terra. Difícil negar-lhe agora o voto de confiança. Mas o relógio da reforma agrária não vai parar. E o governo estará novamente no rumo da desmoralização se chegar atrasado ao compromisso de assentar 40 mil famílias até dezembro. Sem contar os 18 mil sem-terra acampados em beira de estradas. São metas ambiciosas. Inatingíveis na atmosfera atual. Em curiosa regressão, a ideologia que costuma incendiar o campo encontrou no descaso da administração neo-social do professor Cardoso inesperado combustível. O próprio Fernando Henrique começou a armar os espíritos ao acomodar o conservador Andrade Vieira no Ministério da Agricultura. O ministro conseguiu piorar a situação ao nomear o fazendeiro Brazílio de Araújo Neto para o Incra. A ginástica de Fernando Henrique para contornar a sequência de equívocos produziu uma anomalia administrativa. O Incra passou a valer mais do que a pasta a que deveria estar subordinado. Do ponto de vista do Palácio do Planalto, um Andrade Vieira não vale meio Graziano. Texto Anterior: Sete tucanos e um destino Próximo Texto: Bravo mundo novo Índice |
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