São Paulo, sábado, 30 de setembro de 1995
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Brasil exporta filme pornô com crianças

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A filipina Amihan Abueva, secretária-executiva da organização não-governamental "End Child Prostitution in Asia Turism - Ecpat" (Pelo Fim da Prostituição Infantil no Turismo Asiático), quer que entidades brasileiras de defesa da criança solicitem à Interpol (Polícia Internacional) que identifique os grupos que exploram o sexo infantil no país.
Ela esteve na semana passada no Brasil para estabelecer vínculos com organizações não-governamentais brasileiras que tratam da questão da exploração sexual infantil.
Abueva disse -em entrevista à Folha durante visitava ao Núcleo de Trabalho Comunitário da PUC- que "prolifera o número de fitas de vídeo pornográficas envolvendo crianças brasileiras de 8 a 13 anos em Bancoc, na Tailândia."
Segundo ela, essas fitas são vendidas por camelôs nas ruas do centro de Bancoc a um preço médio de US$ 20,00.
Ela afirmou que foi possível identificar que a produção de algumas dessas fitas é brasileira porque os créditos finais do filme informam que o vídeo foi produzido em São Paulo, Salvador (BA) ou Recife (PE).
Segundo ela, a polícia tailandesa não tem informações sobre os responsáveis pela realização desses vídeos.
Em São Paulo, o SOS Criança -órgão responsável pelo encaminhamento de crianças carentes e infratoras aos órgão de assistência e recuperação- registrou, do início do ano até o último mês, 36 casos de prostituição infantil, segundo seu coordenador, Paulo Vitor Sapienza.
Desses casos, quatro envolveram garotos e, 32, meninas. As crianças prostituídas que entram no SOS têm entre 11 e 17 anos.
Estima-se que existam atualmente na Tailândia cerca de 100 mil crianças prostituídas (veja quadro).
Abueva quer ampliar a rede informal de denúncias contra a exploração mundial da prostituição infantil.
Hoje a Ecpat, com sede em Bancoc, tem escritórios em 25 países asiáticos, onde mantém convênios com 250 ONGs.
A entidade pretende ampliar sua atuação com organizações afins na America Latina, África e Leste Europeu -motivo da viagem de Abueva ao Brasil, entre outros países.
Contatos
Amihan Abueva disse que um dos principais objetivos de sua visita ao Brasil foi "abrir contato com entidades brasileiras para que elas auxiliem na coibição do turismo sexual e na produção e exportação de fitas pornográficas envolvendo crianças."
Segundo ela, além do trabalho das ONGs, há necessidade do envolvimento da Interpol para localizar e identificar máfias especializadas nesse tipo de crime que se organizam no país.
A assessoria de imprensa do Imesc (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos), uma das entidades brasileiras contactadas por Abueva, informou que a solicitação à Interpol para averiguação de possíveis grupos exploradores do sexo infantil deve acontecer até o próximo mês.
A deputada federal Marilú Guimarães (PFL-MS), coordenadora da Frente Parlamentar Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, disse que o movimento pretende entregar no dia 12 de outubro uma cartilha informando como acontece o aliciamento de menores para a prostituição e as maneiras de evitá-lo.
"Será uma cartilha com uma linguagem bem didática, destinada ao público menos informado. Distribuiremos alguns desses manuais a governos estaduais e prefeituras esperando que os chefes desses Executivos reproduzam o material e o divulguem à população carente", afirmou a deputada.

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