São Paulo, sábado, 30 de setembro de 1995
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Paris vê retrospectiva de Paul Cézanne

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1907, em Paris, uma retrospectiva de suas obras fundou a arte do século 20. Hoje, 88 anos depois, a capital francesa pode novamente se espantar com a pintura de Paul Cézanne (1839-1906).
A retrospectiva, que fica em cartaz no Grand Palais até 1º de janeiro de 1996, é a maior exposição de Cézanne já feita: são 230 pinturas, aquarelas e desenhos, de acervos de diversos países.
Pode estar vindo em boa hora. Depois do esgotamento estilístico do fim-de-século passado, resultante do cromatismo obsessivo de três neuróticos geniais -Wagner na música, Proust na literatura e Van Gogh na pintura-, a arte de Cézanne representou para o novo século uma nova estética.
Espere-se muito debate dessa retrospectiva. Cézanne ainda é controverso: não se encaixa em classificações estéticas e estereótipos humanos. Sua vida pessoal não foi o que se espera de um "vanguardista" -no conceito contemporâneo de vanguarda. E sua pintura não tem a dramaticidade explícita de um Van Gogh ou a agressividade de um Picasso.
Nascido na bela Aix-en-Provence, cidade no sul da França, ele era filho de um comerciante de chapéus que queria um filho advogado. Em 1852, porém, o pai cometeu um erro: colocou o filho no colégio interno Bourbon, onde ele se tornou amigo de Emile Zola, futuro romancista e crítico de arte.
Mesmo assim, foi cursar direito em 1859 -mas o largou em 1861, para realizar o sonho de ir a Paris ser pintor. Já estudara os mais variados gêneros: de Rembrandt, tomara o gosto pelos retratos; dos barrocos, pela natureza-morta; dos impressionistas, pelas paisagens.
A obra mais antiga da retrospectiva data de então: 1862. Dali em diante, aos poucos, Cézanne adquire estilo próprio. E a partir de 1880 esse estilo se torna revolucionário, com base no desenho: "Vejo na natureza o quadrado, a esfera e o cone", disse ele.
Seu desenho rompe com a apresentação tradicional de um objeto -calcada na perspectiva. Mostra a figura em mais de uma face, distorcendo-a sutilmente. Não é a distorção expressionista; mas, dessa quebra da superfície em planos oblíquos, dessa decupagem dos volumes, desse equilíbrio inédito, um movimento emocional se cria.
"A impressão é de uma ordem nascente", escreveu o filósofo francês Merleau-Ponty. A sequência da retrospectiva deverá dar a mesma impressão. E o que nasceu se chama modernidade.

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