São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Vale quer limitar acesso ao capital votante

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A direção da Companhia Vale do Rio Doce quer que o modelo de venda da empresa limite em aproximadamente 1,5% o máximo que cada investidor poderá comprar do capital votante (as ações ordinárias) da estatal.
Com isso, diz Teixeira Filho, o governo evitará que controle da estatal vá para as mãos de grupos já poderosos no setor em que ela atua -especificamente o de mineração.
Por esse modelo, a Vale do Rio Doce teria uma gestão profissional, escolhida por um Conselho de Administração no qual seus empregados, que deverão comprar uma fatia do seu capital, terão papel decisivo.
É possível até mesmo que os empregados da estatal se tornem os acionistas com maior participação no controle.
A escolha de um consórcio encabeçado pelo banco de investimentos norte-americano Merrill Lynch para preparar o modelo de privatização da Vale foi um reforço para a tese da pulverização do capital da empresa -posição majoritária entre o alto comando da estatal.
Experiência
É que o Merrill Lynch também foi responsável pelo modelo de privatização da argentina YPF (Yacimentos Petroliferos Fiscales), a maior privatização feita até hoje nas Américas. A da Vale, avaliada pelo BNDES em US$ 14 bilhões, será a maior.
Lá, o banco norte-americano adotou um modelo semelhante ao pretendido. Na YPF, foi determinado que cada investidor só poderia ficar com 3% do capital votante da empresa.
Como no caso da Vale, 49% das ações já estão em poder do público (a YPF era 100% estatal), Lima Teixeira entende que a fatia de cada investidor terá que ser menor, aproximadamente, a metade do estipulado na empresa petrolífera argentina.
Os dirigentes da Vale querem que a empresa seja vendida em um processo de oferta global, que incluiria a colocação de ações, simultaneamente, nas principais Bolsas de Valores do mundo.
Essas ofertas internacionais, no entanto, teriam percentuais limitados, evitando que o controle do capital da empresa possa sair do país.
"Golden share"
O fato de as reservas minerais da Vale serem suficientes para quase 500 anos de exploração preocupa especialistas, o governo e a própria empresa.
Com a ressalva de que falava do ponto de vista pessoal, o presidente da Samarco (empresa de mineração formada pela associação da australiana BHP com a belgo-brasileira Samitri), José Luciano Duarte Penido, disse que a concessão aos novos donos da Vale deve ter um prazo de 50 anos.
Esse, na sua opinião, seria um prazo mais que suficiente para que os novos controladores da empresa tivessem o retorno, com lucro, do capital investido. Penido entende que nenhuma fórmula de cálculo do preço da Vale tem como abranger um horizonte de produção superior a 30 anos.

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