São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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FHC vai ser 'imperador' de Petrópolis por 5 dias

Cidade serrana do Rio vai sediar o governo neste mês

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai resgatar em 1996 uma tradição republicana rompida no regime militar (1964-1985): a de despachar, no verão, na cidade de Petrópolis (RJ), conhecida como a "cidade imperial das Américas".
O último presidente a despachar no palácio Rio Negro, restaurado e redecorado para a visita de FHC, foi Artur da Costa e Silva, em 1969. O antecessor, Castelo Branco, havia rompido a tradição iniciada pelo marechal Deodoro da Fonseca em 1890.
A programação da visita (18 a 22 de janeiro) deverá ressaltar a condição de cidade imperial de Petrópolis. A organização é da princesa Cristina de Orleans e Bragança -filha de dom Pedro Gastão, bisneto da princesa Isabel- e do secretário estadual de Indústria, Comércio e Turismo, Ronaldo Cézar Coelho.
FHC será recebido na casa que foi da princesa Isabel por dom Pedro Gastão, que seria o imperador brasileiro, segundo a linha sucessória do ramo de Petrópolis. O príncipe, que diariamente anda a cavalo por Petrópolis, é o sinal mais forte da presença da monarquia na cidade.
Ele não pretende ver Fernando Henrique cavalgando. "Ninguém mais anda a cavalo no centro de Petrópolis, só eu. Não vou convidar o presidente para fazer essa loucura, entre ônibus e carros", afirma dom Pedro, que em fevereiro faz 83 anos.
A visita transformará Petrópolis em sede temporária dos governos federal e estadual. Ao chegar, FHC vai encontrar instalado na cidade (66 km do Rio) o primeiro escalão do governador Marcello Alencar (PSDB).
"A cidade vive um oba-oba danado, excitadíssima. Para mostrar ao Brasil a única cidade imperial das Américas, tudo será feito com muita solenidade", diz Ronaldo Cézar Coelho. Ele calcula que a programação custará R$ 1,5 milhão, entre gastos oficiais e de empresas.
O presidente da Petrotur, empresa municipal de turismo, Ronaldo Gonzales, prevê que o número de turistas em Petrópolis deverá triplicar durante a visita presidencial. Em janeiro passado, 25.710 turistas estiveram hospedados na cidade.
O prefeito Sérgio Fadel (PDT) adiou para depois da visita o desmonte da iluminação de Natal, marcado inicialmente para 6 de janeiro.
Fernando Henrique chega na noite do dia 18. Ele vai se hospedar no palacete de Maria do Carmo Mello Franco Nabuco, na av. Ipiranga, em frente à casa que foi de seu tio Carlos Cardoso, onde passava férias na infância. O palacete foi cedido ao governo do Rio.
O presidente ficará em uma das cinco suítes da casa, com uma biblioteca em anexo. O palacete foi redecorado com móveis da época imperial, assim como o palácio Rio Negro, onde os presidentes anteriores ao ciclo militar despachavam no verão.
Na sexta-feira, 19, no Rio Negro, FHC recebe em audiência o presidente da Federação das Indústrias do Rio, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, e participa da premiação pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) de 30 empresas que se destacaram em 95.
À noite, FHC inaugura a exposição de quadros da coleção Gilberto Chateaubriand, organizada pelo Museu de Arte Moderna do Rio, na casa da princesa Isabel, onde será recepcionado por dom Pedro Gastão.
FHC visita sábado, na casa do Barão de Mauá, uma exposição de quadros, móveis e roupas das fazendas da região no tempo do império. "Teremos mucamas, sinhazinhas, tudo para lembrar a época", diz o secretário Coelho.
À noite, o presidente vai ao Quintandinha, hotel construído nos anos 30 e um dos cartões postais da cidade, para uma apresentação do Projeto Aquarius, com 140 músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira e 80 vozes do coral de Petrópolis. "Será uma megaprodução, para 2.000 pessoas", afirma Coelho.
Toda a programação foi enviada a FHC para a aprovação ou eventuais mudanças.
O museu, que foi residência de dom Pedro 2º, deverá ser visitado por FHC no domingo.
A sugestão de Coelho é que ele faça o percurso de um quilômetro do palacete dos Nabuco ao museu a bordo de uma charrete de turista, recuperada especialmente para a ocasião.
O governo estadual e a prefeitura pretendem reorientar o turismo da cidade, hoje basicamente histórico e cultural, para as pousadas e hotéis-fazenda da Mata Atlântica. O secretário Coelho é dono da fazenda São Fernando, de 1813.

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